Por vezes, embrenha-se de tal forma na sua mente, que se esquece de olhar, até mesmo dos olhos.

A cor do assunto

Cheira mal. É muito raro cheirar-me mal. Como a minha mãe diz, o meu nariz é selectivo, o esperto. Mas às vezes trama-me. Cheira mal e não sei de onde vem. Cheira mal e isto apoquenta-me. É intrigante não saber o que cheira mal, se calhar é aqui dentro. Aqui dentro? Ai, aqui dentro. O que estará podre? O coração ou as mãos? Tenho mais medo de perder as mãos. Tolice, a minha. Este medo que cheira mal. Preferia que não fosse a única a sentir este odor. E as minhas manas e a minha mãe têm um olfacto tão apurado! E só eu sinto. Ai, que me apodreço.
Mas pelo menos apodrecendo ainda me sinto. Melhor sentir, mesmo que cheirando mal.
A insensibilidade pica-me e dói mais que o cheiro.
É Natal e hoje vivemos um belo dia de Sol. É Natal e ainda nos abraçamos e somos sinceros e queridos. Pena não evitarmos as ofensas.
Amor cá do fundo

A chuvinha suave

Hoje choveu como se nevasse. Umas gotinhas dentro de flocos de neve pequeninos pequeninos.
Era uma chuva diferente. Tem sido uma chuva diferente.
Dá-me a sensação de que estou dentro de qualquer coisa sempre a mudar, sempre a mudar. E estou, mas foi a chuvinha que me fez sentir isso. Senti-me tão livre! Sentia-a na cara e não fazia doer. Era um presente.
E saltar nas pocinhas. E saltar em cima de montes de folhas caídas.
Co-autoria de Beatriz Costa
(Este é centésimo post. Parabéns, leitores.)

Let it be

Os olhinhos sorriem descaradamente e o coração dança como louco. A alma enche-se e musica. E assim vai, deixando-se ser, deixando ser. Mas nem sempre, porque há momentos em que gira sobre si mesma, desgrenha-se e berra.
A sensibilidade cresce e os gestos da outra alma tornam-se enormes. O arrependimento vem fácil, mas a satisfação compensa. E a alma fica meio estranha, sempre tentando pensar em vez de sentir. Ah, mas ele amolece-a, aconchega-a de tal forma que ela não se mexe, apenas sente e deixa-se ser. E passado um tempinho, logo vem o desgrenhanço. E é aí quem vem a Mãe Maria sussurando palavras sábias. Seja ela quem for. Depois de erguida, a alma pensa. Pensa demasiado, nem se redime tão facilmente. Não entende a sabedoria das palavras. Vai vivendo e só depois de alguns momentos, olhando para si, vislumbra a música. Ouve agora as palavras. É então aí que se deixa sentir. E compreende que deixar-se ser é deixar-se sentir, que se lixe a razão, ela aqui não existe. Volta a deixar-se encher e volta a musicar, no entanto, agora, não se desgrenha. Agora chora um pouquinho. Mas volta num instante, até repousar em si e nele.
Assim vai amando.

No momento em que fechamos os olhos

Mesmo antes de adormecer. Ouço. Tudo é o que ouço.

Outono

De manhãzinha, bem acordada mas ainda na delícia confortável do sono, mordia a maçã fresquinha e embrenhava-me na Natureza. O vento estava determinado e as folhas obedeciam, caindo de boa vontade, reparando na sabedoria do sopro. Os passarinhos tímidos, sem saber se podiam cantar, tal era a majestade da natureza nesta manhã. O aconchego que o céu obrigava sentir dava-me energia para o dia.
Dali a pouco, lá em cima, o vento continuava determinado, mas as asas aguentaram-se bem e a instabilidade era divertida. O Sol brilhava mais perto e não me deixava sentir medo. Eu obedecia, conhecendo a sua sabedoria.
Olhei e reparei num bando de pássaros que dançava numa sensatez de profissional que sente o espírito do espectáculo. De cima, via a sombra do bando que mal acompanhava os movimentos, pequenina diante da sua graciosidade. O céu mantinha-se nas cores incapazes de parar de nos dar apoio.
Agradecida.

Descartamo-nos

A religião surgiu - espera, sempre existiu? - pela capacidade reflexiva do Homem, por termos aquele bichinho que nos pergunta o que fazemos aqui e para quê tudo isto. E buscamos respostas de forma tão veemente, tão devotada. No entanto, hoje, assim que nos entra uma ideologia, parece que nos apagam, parece que põe uma venda ao bichinho e fita-cola na sua boca porque passamos a entender um pouco do que isto é, mas por termos tantas respostas (e por mais qualquer coisa), perde-se o interesse. Mal olhamos para o que fazemos, mal olhamos para o que acreditamos, esquecemos que somos seres com vida inteligente e sensível. Esquecemos que sentimos arrepios profundos na alma. Esquecemos que sentimos o silêncio a entrar. Descartamos o que em nós sofre e salta. Cada vez nos desinteressamos mais por nós mesmos. Hoje, o que se procura é ocupação. Tanto tanto. Vejo impaciência, vontade de esquecer. E é pouco por ter respostas, é mais por não querer ouvir. As pessoas não querem entender o que se passa dentro de si. Não, reflectir não. Silêncio? Para totós.
Parece que há a consciência de que somos capazes de entender demasiado e não se aceita isso. Hoje prefere-se a ignorância. A ignorância do que existe aqui dentro, do que somos.
E a religião agora deixa de ter importância. Ela faz sentido a quem gosta de se ouvir e quer descobrir como mudar para cima. E, ai, vejo tão pequena vontade de mudar. Parece que aqui está-se de férias da vida.

A força que nos traz de volta

Por vezes, mesmo com esta maravilha de planeta que nos emprestam, nós deixamo-nos cair, filtramos as belezinhas e envolvemo-nos naquele negrume pesado. Olhamos para o espelho e aquilo que vemos causa-nos um desconforto tal que enjoamos de nojo. Caídos, o que acontece bem não existe. O tédio, pensamos que é o tédio. No entanto, mantemo-nos ocupados. Fazemos, fazemos, fazemos nada. E é aí. Aí é que está o enfado, o desânimo. Não é nas acções em si, é no que elas não produzem. Sabemos que fazemos. Ai, mas não sentimos que o feito seja útil! Mesmo sem entender isto racionalmente, é este sentimento que nos empurra. Nós, caímos.
E tendo tudo, não nos desenvolvemos para obter, para apenas para ter. Tantos de nós somos ociosos. E aquela moleza, que nos descontrai e até nos deixa apreciar melhor as coisinhas, sabe bem. Mas farta. E é quando isso acontece que chega o amigo tédio, já tão conhecido. O entusiasmo! É o entusiasmo que foge. Têm a mesma carga, não podem estar juntos. E como o chamar? É que mandar embora o tédio não resulta porque ele fica se pedem o contrário. Ele não responde a contrários, ele só responde a uma vontade de querer algo, não de não querer algo. Não querer o tédio? Querer o entusiasmo. E isto é motivado pela utilidade de certa acção. Ao avistar um resultado ÚTIL, queremos o entusiasmo para o concretizar. E querer o entusiasmo já é estar entusiasmado.
A moleza é óptima, o empenho também. Dediquemo-nos à utilidade. Relaxemos na utilidade.
E é esta força que nos puxa de volta à alegria de viver, é a sensação de merecermos o planeta emprestado.

Ó gente da minha terra

O Sol aqui em Portugal sabe a brisa, refresca de tão quentinho. Refresca porque conforta, torna o mesmo no novo delicioso. Os montes suaves, às vezes cansados, reflectindo aquelas cores acomodadas, outras, vibrando naquele verde que dá vontade de lhes saltar em cima. Ah, e quando aquelas ovelhinhas se espalham, desordenadas, empenhadas na sua refeição, tão lindas.
O ar, o ar é extraordinário, o ar aqui sente-se bem. Ó gente da minha terra, sintamos o ar! O céu que nos envolve é sempre tão original e motivador, é como o génio do Aladin: transforma-se em qualquer coisa, sempre para nós. Traz-nos de volta a vida que nós afugentamos. Este céu de Portugal! A praia, ai, que belezura de bem-estar. A nossa praia é compreensiva, é jeitosa, é confortável.
O português, com bigode e pança físicos ou só mentais, sabe se divertir, é bom no que toca a relaxar, empenha-se nisso.
Ó gente da minha terra, não nos embrenhemos no nosso enfado mas deixemo-nos absorver sim pelo ar português! Pelo nosso mar ou pela nossa descontracção natural. Logremos estas características típicas que estão aqui dentro, gozemos do que de tão bom somos, ó gente da minha terra. Porque também somos as ovelhas, o génio e os montes.

I'm Mr. November, I won't fuck us over, I won't fuck us over, I'm Mr. November.

Hope so, you Mr. Month.

certo

Ai, os hábitos trazem-nos aquela segurança sossegada. No entanto, os hábitos também nos apoquentam, naquela sua rotina que até faz adormecer. Desassossegam por sossegarem tanto. E trazem aquele radical desejo de mudar de vida. Viagem, mudança de look, reconstrução de ideais, agitação provocada, experiências novas. Sobre estas mudanças todas, vendo objectivamente, trocamos a rotina, mas não deixamos de ter uma. É aqui que está, é essencial a nós, pessoas, assentar nalgum meio, em alguma outra pessoa ou em nós mesmos, mas assentar. Precisamos que algo nos prenda, ou que nós próprios nos agarremos. Aliás, não é assentar é essencial a nós, pessoas; assentar é aquilo que faz com que sejamos uma pessoa, uma única pessoa. E não várias. Assentar é criar laços. E os laços carecem de tempo, o tempo das relações não das horas, para se formar e cimentar.
Os hábitos agarram-nos a uma vida dentro da qual variamos. E, sem uma rotina, não seríamos capazes de nos movimentarmos em nós próprios. É aí que os hábitos, tantas vezes irritantes, nos ajudam a viver, nos dão espaço para reflectir.

Porquê que a perfeição não há-de existir?


É uma ideia. É geral. Ninguém a consegue definir, mas algures no nosso cérebro, ela está lá, bem concreta. O infinito, o universo. Todos conceitos vulgarmente usados. Definições definições? Não conseguimos. Não dá. Mas tentem que é giro. E as coisas existem. E nós sabemos disso. Vivemos sobre elas.


A vida aqui em baixo é uma oportunidade. E, para mim, o seu sentido é evoluir. A morte que se lixe, porque somos eternos. Deus não ia desperdiçar recursos e imaginação para depois cairmos e deixarmos de existir, né? Portanto, acredito que depois de aqui em baixo, continuamos a aprender mais. E vamos progredindo.


Já entendi: deixarmo-nos receber também é dar. E dar é também deixar que os outros dêem!
Não é nada egoísta, dar é mimar o universo, é contribuir para a sua evolução. É amar.

Andar à chuva

Era fininha, delicada, cheia de vontade de dar. Mas as pessoas assustavam-se. Todas se cobriam e corriam naquele passo tão medroso. Ela não era assustadora. Aliás, ela tocava e ficava ali a refrescar tão suavemente. Umas gotas desfaziam-se ao tocar a minha mão, tornando-a calma e bonitinha. Havia outras que permaneciam originais, perfeitinhas. Agudas, tão agudas eram elas: daí o susto. No entanto, era o entusiasmo em dar um pouquinho de água, era o entusiasmo de poder renovar sem constipar quem fosse. Oh, as pessoas fugiam. Tola, abria os braços e olhava para o céu agradecendo aquele mimo. Desdenhando, ria e desenrolavam-se dentro da mente juízos que viam Tola ridícula. A chuva ofereceu e ficou triste pela pequenina receptividade. Mas não se viu tristeza em quem não recebeu. E isto impele para tanto: quem dá satisfaz-se melhor que quem recebe.
Hoje vi um famoso clip no youtube "prova de amor" e pousei nele, cogitando. Ela sofreu, ela ficou atada naquele nó de culpa involuntária simultaneada por gratidão culpada. Ele foi transbordando de alegria, quão bom tinha sido, a perda ainda o tornava mais forte. Isto gera uma tempestade cá dentro que me faz sentir que é egoísta dar, e generoso deixar-se receber. Oh, que estranheza de pensamento.

Os olhos da minha gata

No outro dia, olhei e vi os seus olhos. Estava ali o animal. Estava ali o selvagem. Não reconheci a minha gata ali, não tinha como. Aqueles não eram os olhos da minha gata. Aquele olhar empurrou-me e eu caí entendendo que a minha gata não existe ali naquele olhar, não existe ali naquele ser. A minha gata está dentro de mim. Caí de forma tão brusca! E fui rastejando. Rastejava e escorregava no meu sangue, porque a queda provocou ferida. Parei, machucava-me aquele movimento evasivo. No entanto, fuga maior foi parar.

Sossegada, não olhava. Mexendo-me desfazia o que recebo. Preferi a quietude sorridente do que olhar para aquele exterior que, a cada pequeno movimento, me berrava que o sentimento é esquecido.

Miss the youth/ Miss the city/ Have no regret/ Have no pitty...

Quem será o mágico que silencia o mundo? É estranho, que truque tão subtil. É que há tanto movimento e mesmo assim, é possível ouvir o mais puro silêncio. Como? Quem é o mágico, quem é? Que é bom, é. Porque podemos fechar os olhos mas os ouvidos não, então ele encarrega-se de calar o mundo. No entanto, nunca me senti ser calada. Parece que agarra no som e leva-o para onde quer chegar. E o resto do mundo não precisa de o ouvir. É incrível, este mágico. Eu imagino o que seria ouvir sempre tudo o que se passa. Caótico. A música onde caberia?
Gosto do mágico. Onde está ele? Será o silêncio a combinação de sons longínquos que ele agarra e encolhe?
Na cama, começo a escutar o silêncio, era o som dos meus ouvidos. Ouvia os meus ouvidos a emitir o silêncio. Não havia ali som que o mágico pudesse agarrar. Mas eu ouvia, tão nitidamente. O som parecia vir de dentro de mim. Escutava-me a mim.

O silêncio é magia.

os sentidos

Os sentidos. Os sentidos são uma dádiva.
No outro dia, depois de regar a horta, agachei-me e escutei a terra a absorver a água. Vi, apalpei. Cheirei, sentia-se tão bem aquele aroma a terra molhada. Lembrava os dias em que só se sente esse cheiro, só se vê tudo molhado mas ninguém sabe quando choveu.
Os sentidos são uma dádiva.
Os nossos sentidos não se desligam, estão sempre ali ligados. Escolher o que queremos receber é lixado. E, na maioria das vezes, não escolhemos e deixamos que nos entre o que for. Deixamos deixamos deixamos... E os nossos sentidos às vezes até se irritam com isso, mas só filtram quando queremos. Escolher o que nos entra é transformarmo-nos no que somos. Devíamos ser mais activos na nossa própria educação.
Os sentidos são o que nos liga ao exterior. E têm duas mãos. Pena deixarmos vir mais do que vai.

Confundimos calma com tristeza.
Hoje li que a música rápida é associada à alegria e que a música calma é associada à tristeza. Fiquei atónita. NUNCA tinha pensado nisto. E toda a gente fazia cara feia quando falava de música cujo ritmo era lento, mas nunca tinha olhado para a música dessa forma, via tudo o resto, menos isso. Adjectivava a música de tanto, mas nunca de calma. Todos fogem do que parece não ter batida. Talvez medo.
Um andar calmo revela serenidade, um andar calmo revela desmotivação: ambos. No entanto, o convencional é pensar que a calma entristece, torna nostálgico, entedia até. Ai, a música cujo ritmo nem se sente é a música rápida com um ritmo ainda mais rápido e por isso não se sente. É como quando algo gira muito rápido: deixa de se ver. Existe sim a melodia que nos empurra para cairmos, mas é que a outra não é nada disso. Nomeamos muito e sabemos pouco. Acabamos por baralhar as coisas.
Cá para mim a lentidão é serenidade.

É tudo uma questão de ponto de vista


Estou aqui, sentadinha a escrever. O Sol lá fora sabe-me melhor que qualquer outra coisa. A quem trabalha na vigilância da floresta, sabe mal porque assim não há maneira de se esquivarem ao trabalho. A quem está na praia, é demais porque a areia escalda. A quem trabalha fechado na fábrica, é indiferente. A quem trabalha sem ar condicionado mas com janelas, o Sol é um chato.

Um exemplo tão banal como este ilustra muito bem que algo, sendo sempre o mesmo, nas mentes das pessoas torna-se em milhões de outras coisas. Porque não olhamos para o que existe, olhamos para o significado do que existe. Antes sequer de observar o que é, as sensações que nos chegam afastam-nos da essência do que ali está. Isto é o que nos vai empurrando para longe da realidade. Que raio de mania de atribuir significado a tudo! É que depois no cérebro as ligações feitas por pouco observar o que existe desencadeiam emoções. E, muitas vezes, a única forma de começarmos a levar a vida como vida é mudarmos essas ligações e deixarmos de transformar chuva em mal-estar, o pai em irritação, o estudo em tédio. Já que não vemos a realidade, que a sintamos positiva.

Esta questão conduz a indagar que valor tem, assim, a essência das coisas se ninguém a vê.

E assim tudo parece relativo. No entanto, acredito no valor absoluto do que existe, só ainda não o alcancei. Aos poucos, vamos evoluindo e entendendo a essência da vida. É uma longa senda na qual vamos indo, tão impacientes. Ainda nos temos de contentar com os nossos próprios significados.

Que se lixe quem tem razão, isso não existe. É tudo uma questão de ponto de vista.

Postes e árvores




Postes, demasiado postes. Para tudo levantam um poste.



Estes postes hoje causaram aqui uma coisa dentro... E aqui posto sobre postes.





Caiu-me algo em cima

A morte não sei bem o que é, pensava que sabia.
Não quero saber
Mas sei que nos aperta, parece que nos quer encolher
Mas não sabe como o fazer,
parece que parte aqui coisas dentro

É exterior a nós mas não parece
porque está aqui tão interior
tão capaz
tão forte
e tão inoportuna

dói-nos,
mas dói mais sentir a dor daqueles a quem dói mais
dói não poder arrancar essa dor
dói ter de esperar
dói não estar lá
dói estarem tão longe e o que me chega é só a sua dor
só a sua dor
não me chega conforto, mesmo que falem com calma

Aqui o céu mantém-se-me misterioso,
não me quer contar nada

instinto

Menosprezamos o nosso instinto. É algo complicado distinguir o que é instinto. Mas o que é certo é que Deus ainda nos deixou um pouco para não nos perdermos tanto.
Instinto, aquela sensação injustificada que descartamos, por vezes. Pode ser impressão. O que é verdade é que somos nós a entender o que não está ali evidente.
Há uns tempos, não simpatizei nada com uma pessoa, ignorei e agora desilusão.
Porra, somos inteligentes como tudo, sabermos discernir sobre questões abstractas. No entanto, não queremos aplicar a genialidade nestas coisas de compreender o que é genuíno instinto e o que não é. E até pensamos demais em assuntos que se resolvem por si só. Temos tudo e esquecemo-nos tanto disso, tanto.

Águas de Março

Tornar uma lista de nomes, aborrecidos, em algo maravilhoso que fica no ouvido, que nos faz sorrir e apetecer ficar ali a balançar na melodia: isso é que é ser artista. E ver, ver aquelas mãos, servindo de porta-voz do coração, movendo-se tão delicadamente. As mãos agarrando-nos, as mãos musicando também elas. Ver, fechar os olhos e continuar a ver aquela imagem mais que imagem. Aquela imagem cheia de sensações que nos enche cá dentro de energias. Enche sem ocupar um espacinho que seja, libertando, aliás, espaço na nossa alma atulhada. Se não for isto a arte, não sei o que seja. Liberta-nos ao se libertar.
E os movimentos da boca que se notam na música, sem olhar para ela. O sorriso de satisfação ao cantar, o sentimento que se nota só de abrir ou não a palavra. E é tão verdade. A arte é o que há de mais verdadeiro, não se duvidam dos sentimentos.
É melhor, bem melhor olhar olhar indefinidamente.

No fundo todos esperamos que nos chamem à frente. Desertinhos.

São tantas as coisas a considerar que nunca chegamos a conclusão nenhuma.

não pelo que é

Espalharam-na por aí. Encheram as paredes e o ar com ela. Encheram-nos os sentidos com ela. Atiraram-na para a sarjeta disfarçada de outdoor. Ela sempre tão linda, tão apreciável. Ela é profunda. Oh, se paramos e a deixamos entrar em nós é fantástico. Só que encheram tanto tudo que criámos barreiras, criámos indiferença perante ela.

Como há muita por aí, deixou-se de saber o que é ela, o que ela é. Tornou-se uma companhia, tal qual como a televisão ligada em canais reles. Está lá e isso conforta, não pelo que é, pela sua presença. Sentimos quando liga e quando se desliga, mas não se aprecia nada do que se passa. E é tão triste, esta banalização. É como se tivéssemos sempre de mudar de vida porque por mais que gostemos dela, acostumamo-nos a ela e esquecemo-nos do que é, dos tempos em que sonhávamos com ela.

Encheram as ruas de cartazes todos iguais. O primeiro foi cuidadosamente pensado ao pormenor. Mas todos juntos dão vómitos. A música pode ter sido inspirada e sentida, só que a tocar o dia todo, quase se apaga a si própria. O edifício pode ter sido feito com minúcia e ter ficado bonito. No entanto, se se trabalha lá dentro todos os dias, ai que nem se olha...

A banalização mata a ela, a arte.

O Sol está atrás. A Lua à frente. E nós estamos aqui a fazer sombra à Lua. Que perfeição de alinhamento. Vou mas é ver isto.

nanocosmos

Que ansiedade é esta? Ai, um redor idílico, verdinho e bem vivo! Tão vivo que até me faz sentir vegetal. A relva é perfeita e, uns passos, e uma árvore grande dentro da era que nos vê todos os dias a estender os biquinis e as toalhas, que nos vê a vegetar. Mais uns passos e primaveras! As flores das primaveras físicas. Das primaveras que me tocam e me enfiam um cheiro cá dentro, tão aterrador de tão gostoso. Ansiedade bestial. Tudo me enfada, me irrita. A calmia exterior que, eu natural, seria apetecível, irresistível aliás, eu isto, é enjoativa. É um retrato de um pentaavô que vivia numa terriola remota que já nem existe. O exterior é um retrato morto de tão vivo e calmo. De tão perfeito. Só retratos, só retratos.

Tratamos a Humanidade como um todo que evoluiu. Sendo assim, não podemos crer que só vivemos uma vez. Se assim fosse, a Humanidade seria estagnada: uns nasciam, aprendiam alguma coisa e desapareciam seriam "comidos pela terra" como se diz, depois outros viriam e aconteceria o mesmo. Não sendo assim possível evolução. Nós acreditamos no "além" e nem sabemos. Consideramo-nos imortais mas nem damos conta.

Tão simples

De princípio, a senhora tinha um ar alegre. Trabalhava sem qualquer lamento. “São as beatas”, a varrer. Dizia isto não como quem reclama, dizia isto como sendo uma informação importante. Ela própria tinha cara de fumadora. Tinha tanto cara de fumadora! Mas eu era capaz de jurar que ela não fuma.
Ao partir, vi, mesmo à minha frente, uma mulher a fumar. Juntou-se a ela outra, completamente diferente. E juntou-se outra, ainda mais distinta. E criou-se um espaço ali de cumplicidade de fumadores. A primeira parecia tão superficial que impressionava. A outra era estranha, não deixava transparecer quase nada. A terceira sorria imenso, ria até. E acho que foi só neste momento que eu entendi que o fumo é como beber água. Mais tarde, na enésima paragem, um grupo de crianças bem autónomas, nos aguardava, tão coeso. E entraram dando alegria àquele caixote. Sorri imenso, veio-me uma alegria cá para fora. E na paragem seguinte, mais crianças! Ainda mais. Acho que até me ri, aquele rir delicioso de quando estamos sozinhos mas não dá para aguentar.
Bem mais tarde, a criança estava emburrada, não queria estar ali, o que é perfeitamente natural. E era forçada, enquanto a mãe olhava para o ecrã a tentar perceber quantas calorias gastou. O filho era um rebelde. O outro olhava maroto. Parecia imitar aqueles falhados que tentam ser galãs com os truques dos olhos ou do cabelo. Oh, e o rir sozinho foi descontrolado, inevitável.

Quero contar uma história

Ontem vi uma rapariga com um olhar impenetrável. Acho que usava saltos. Mas notava-se o quanto tremia. Ainda se notava, e ainda bem.
Nós temos medo. Depois há a personagem segura, as roupas intimidantes. Tudo porque temos medo. Ela tremia porque ainda não tinha personagem, ainda estava em construção. E ainda bem. O tremelicar simboliza a consciência, o anjinho que nos sussurra ao ouvido do coração.
A Humanidade enquanto bebé precisava de uma mãe bem forte. Chamava-se Natureza. A menina sempre foi um bebé chorão e chato, mas tão bonita que a mãe não lhe resistia. E foi lhe dando tudo o que a Humanidade precisava. A criança foi crescendo bem espontânea. Ai, a miúda era muito traquinas! Mas era tudo por inconsciência. Ela sabia aproveitar o que a mãezinha lhe dava. A curiosidade levava-a longe. A Humanidade era muito espertinha, sempre descobrindo coisas. Por vezes eram descobertas tão estrondosas que nem sabia o que fazer com elas, desorientava-se um pouco. A mãe tentava ajudar. Mas a típica rebeldia da adolescência também estava presente no carácter da Humanidade. Então, não aceitava ajuda e preferia ser independente, o que a fez sofrer muito. No entanto, vinham muitas borboletas brancas pousar nela e ela sorria. Era uma foliona! Tudo era motivo para festa. A alegria da Humanidade era uma constante. E ela foi crescendo e, inteligente que era, foi entendendo o que as borboletas queriam dizer. Ela esquecia-se das consequências. A Humanidade, apesar de ser uma miúda de iniciativa, era muito inexperiente e não prestava atenção ao que a mãe dizia, tão subtilmente. Tornava-se arrogante, até. E ia-se tornando assim, pela confiança que a inteligência lhe dava.
A Humanidade era contraditória. Tinha aspextos que se misturavam de uma forma pouco comum. E isso era bom. Esses aspectos entrelaçavam-se cada vez mais. Era como se, inconscientemente, ela se quisesse tornar mais homogénea. E, assim, meio arrogante meio eclética, foi ficando adulta. A racionalidade começava a ganhar destaque nela. Ela era agora uma mulher disposta a corrigir o que não gostava em si. Havia o lado mais natural, mais puro; mas também o seu lado mais comodista, mais mal-habituado, mais rico. E ia tentando mudar, ainda vaidosa, ainda relutante, daí o seu andar transparecer o tremelicar interior. Ela sentia-se um pouco envergonhada e, por isso, gostava de se mascarar, para parecer segura e óptima. Era orgulhosa. E esse seu lado era a sua protecção. A sua mãe desistira já da subtileza e era agora clara. A filha via a mãe, entendia o que ela dizia, percebia o que ela mostrava. Mas a Humanidade continuava matreira e tinha lá os seus objectivos. Havia dias em que se esquecia do que a mãe mostrava e voltava a não fazer da melhor maneira. Havia outros em que a vontade de mudar era tanta que se esforçava realmente. E o seu tempo de adulta foi sendo vivido, ora consciente ora tola. E dentro da Humanidade, havia este braço de ferro entre o que de mais contraditório pode existir. Está na hora de ceder, de mimar as borboletas.

CRIMES DE GUERRA?

Ritmos





Não há grande comércio por aqui. O dia está cinzento. E nem por isso isto está feio. Vejo as pessoas aqui a passear, um pouco naquela de olhar só. E agora está aqui uma criança super feliz a correr e a mãe corre com ela, naquela cumplicidade que completa qualquer mãe. Distinguem-se vários passos, vários ritmos. E isso pode dizer tanto.

Há um comum daqueles que passeiam, é daqueles que têm um objectivo mas apetece tanto desfrutar que não há pressa. Há outro daqueles que se esforçam tão nitidamente que apetece que parem. Há o ritmo dos descomprometidos. Há o ritmo de quem queria tanto estar parado mas não está porque está outra pessoa. Há ritmo da descoberta, há o de falar ao telefone que é tão pouco ritmo. Há o ritmo dos segways, tão experimental. Há o ritmo dos que fotografam, tão semelhante ao dos que falam ao telemóvel. Há o ritmo de quem ama.

Há o ritmo paradíssimo de duas pessoas ali, super curiosas, a tentar descobrir alguma coisa, que embrenhados. Há o ritmo do entusiasmo de criança, de insegurança que não é o da descoberta, é mais imaturo. E só há mais um ritmo que é o dos que comunicam sentindo, pacientemente. Os pombos parecem querer imitar estes ritmos. Mas, coitados, depois perdem-se com o milho.

O chão parece gritar por socorro, sente-se cansado como aquela música do Islão que parece já ter vivido eternidades de enfado.



As pessoas de segway divertem-se, sorriem tão acriançadas, tão bonitas.

Enfurece-se de forma aterradora, pouco imaginável. O corpo duro, a mente transtornada, o passo rápido. E era o quê? O telefone, o telefone! Que ânsia angustiada por atender o telefone. Uma palavra e a expressão torna-se monstruosa, torna-se repulsiva. Nem dá para olhar de tão asquerosa. A voz fica grave e emudece-se de tão furiosa. Lembra aqueles índios que arrancavam o coração de alguém para oferecer aos deuses.
E nesta sociedade, tantas vezes a raiva vem e destrói. E, por vezes, como justificação para o comportamento selvagem, nomeamos a justiça. Coitada da justiça.

Should I stay or should I go,
Should I stay or should I go now...

Foi no ano em que nasci. E não há quem leia que não comece a cantar. Ai, estes Clash...

Do coração


Do topo do monte vejo tudo. Do topo do monte o vento bate mais forte, sinto o sol de forma mais intensa. A cidade está toda ao meu alcance, chega levantar a cabeça. É tão acolhedora esta sensação de ver tudinho. Sinto que me dão o branco de bandeja , e ele ainda toca baixo.

Há certos focos de luz ofuscante, mas são só uns focos e eu tenho toda a cidade em volta, bem visível, bem real, bem fatimense. Vejo o santuário ali ao fundo. Daqui nem parece importante. Os aerogeradores! Confortam tanto: sabemos a evolução, sabemos a mudança real. Há muito verde, há pureza suave e fluída. E gosto disto. Do topo do monte vejo e sinto a minha cidade. Todos os dias da minha casa também vejo o monte no qual agora me deito. E acho-o curioso, acho pertinho mas tão distante porque nunca venho aqui ao cabeço. Eu vejo-o e ele vê-me. E agora, dele, vejo-me na cidade. E do topo do monte acaricio as casinhas e o verde. Do topo do monte a oliveira também vê tudo, mas não sabe o que é. No topo do monte há coisas incompreensíveis. Gosto mais do que vejo do topo do monte do que dele em si.

Daqui também ouço o sino, tão aliciante, a querer que eu vá com ele ao meu passado de criança. Ai, que conforto.

O topo do monte também é o coração. Vejo tudo do topo do monte, vejo tudinho.

- Porquê que pintas as unhas?
- Porque vê-las bonitas deixa-me bem-disposta.
- ?

escuro: ?

Na infância, dizem que não há papão, por isso não há que ter medo do escuro.
O medo na infância é o pavor pelo desconhecido, é a sensação de desamparo. O medo na idade adulta é o medo de si próprio. Talvez seja como o total isolamento, o ter de se enfrentar, o ficar à mercê da sua mente. Tudo o que fica na escuridão é a sua consciência, a sua imaginação. Talvez seja por que a sua mente pode produzir coisas horríveis, resultantes dos seus sentimentos, que sinta esta repugnância, este temor.
Não há distracções: é só a sua alma. E aí é como se caíssem todos os podres em cima, aqueles que se tentam justificar com coisas de fora.
Agora ao contrário: o sentir-se à vontade no escuro não é muito comum, mas isto é por questões práticas. Mas aqueles que se sentem relativamente bem no escuro são tão bons. Conseguem se ouvir e entender, conseguem cantar até. São almas a sério. Mergulhar na sua mente, ver a sua alma, é-lhes agradável. E todos devíamos conseguir isto, como terapia. Todos nos devíamos acarinhar e educar. Todos nos podemos iluminar, aliás.
Muda de vida se tu não vives satisfeito...

E as anteriores fazem com que sejamos.

Podemos sentir.

Podemos imaginar.

Estrela, sem dúvida

Os violinos não estão ali a tocar, já tocam dentro. E é isso que é a arte.
Vem de dentro do artista, mas não vem para fora, mantém-se lá, exposta. E nos entranharmos de arte é a única forma dela ser arte. Não é coisa de massas, de popularidade ou de dinheiro. É de interior e sintonia. Sinto que a arte não é de memorizar, é de permanecer sem nos apercebermos. É de enternecer, e por isso, fica.
E, agora, a arte afigura-se-me mais útil que a política, mesmo sem ela querer.

M79, Vampire Weekend

A ironia de se ser abelha

Foi ao ver o Bee Movie que caiu sobre mim uma vontade de entender. Elas são um belo exemplo do que é uma sociedade organizada, mesmo não pensando. É de louvar o seu papel na Natureza, já para não falar no maravilhoso mel. E quando precisam de se defender têm uma arma: o ferrão. E nós, nesta sociedade desequilibrada, desde pequeninos que tememos ser picados pela abelha. Até criamos mitos sobre a questão. Agora pensemos nos dois lados da situação: a abelha sente-se ameaçada e o seu instinto fá-la picar, o humano está assustado e não se mexe. A abelha prossegue em direcção à pele humana, o humano treme. A abelha não pensa, portanto, não sabe que vai morrer se picar a sério. Mas assim, ela também não picaria o humano porque não o saberia uma ameaça. Então, acho que o facto de elas não pensarem, não é um bom ponto de partida. Mesmo porque o instinto pode ser bem mais útil do que o pensamento (temos bem consciência que por vezes a reflexão é desviada pelo nosso desequilíbrio emocional e as coisas não correm bem). Agora, será que o instinto lhes "diz" que podem morrer em honra de salvar a colmeia? Supondo que sim, realmente são animaizinhos muito corajosos e são um exemplo do que é viver em comunidade. Se não, talvez ainda seja melhor, porque assim, "sem saber", salvam de qualquer forma não sendo demovidas por nada.
Que ironia, que interessante.

Mini-cenouras

Há dias em que nada adianta. A anormalidade supera tudo e não deixa se viver como o todo. Ai, tudo cai, ficando torto e afigurando-se estranho. A reacção natural é rir, rir descontroladamente.
E o normal? O normal é chato mas tão estupidamente essencial. O modelo é importante para entender certas coisas e para não haver perdidos. Que desorientação, mas que conforto, que liberdade.
Oh, tantas vezes o problema é "isso não se faz". Onde está o drama em descascar um pêssego para comer, à porta do estádio, antes de um treino de futebol? O que tem de mal em gritar e saltar de alegria no meio das pessoas? Onde está a falta de educação em nos espreguiçarmos da forma que entendermos naqueles momentos de preguiça (redundância propositada)? É tão gostoso! Por que não elogiar algo num desconhecido, se gostámos tanto? Parece que os olhos das pessoas agora são celas intransponíveis. Conseguimos deixar de fazer coisas que dão tanto gozo, por... pieguices!
E espreguiçarmo-nos, gritar... não é anormal, é muito muito normal. Este completamente estranho e desfigurado preconceito é que me mata. Nascemos todos porcos e depois andamos a ensinar aos nossos filhos para não se sujarem. É tão bom sujar-se (isto lembra-me qualquer coisa)!
O normal, então, é para nos orientar a perceber que este preconceito é irracional e nos aprisiona. O anormal não é para nada. É. E isto é muito melhor.

Sei lá.

Sobrevoo as nuvens, neste momento. Mas elas continuam por cima, com toda a sua fofura e sedução. Eu não sei, já fui considerada anormal por adorar este fenómeno que torna a Mãe Natureza a melhor escultora de todos os tempos. Pensar no que elas são cientificamente leva todo o encanto (afinal não dá para saltar nelas como em insufláveis). Contudo, como Pessoa diz, "tudo é absurdo e o sonho é o que menos o é". E, então, sonho e salto, deleitando-me no sonho que é pouco absurdo, por isso, sou até mais normal. segundo Fernando Pessoa.
Epá, mas eu digo "nada é absurdo, nem ridículo, nem óbvio". A realidade só é conhecida por seres omniscientes e nós não o somos. Portanto, sem ter conhecimento de tudo o que conduziu a certa acção, não estamos aptos para designar o absurdo. E os seres com o privilégio (ou responsabilidade) de saber tudinho, não irão achar nada absurdo porque as questões que nos trasncendem explicam tanto e tornam normal, o que quer que seja. Discordo dele, portanto. No entanto, sobrevalorizo o sonho e é nesse sentido que sou menos anormal perdendo-me na minha mente, imaginária também.
O ilusório é um bicho estranho porque não se distingue: chego a não o saber ilusório. Mas é o inconsciente? O nosso inconsciente é o que em nós é menos ilusório e mascarado e é ele que mistura coisas lá de fora com as cá de dentro e faz os sonhos surreais que lembram por vezes, as mais castanhas, as criações de Dali, as mais vivas, as de Kush. Então, serão estes sonhos ilusórios ou o mais verdadeiro espelho ao qual nos podemos estrangeiramente ver? Ilusório significa não ter acontecido no exterior? Então e o que se passa dentro não vale nada? Talvez designemos este nosso subconsciente de ilusório por medo.
A quimera não existe porque tudo o que eu sinto, sei ou empurro está na minha mente, por percepções. Oh God! O ilusório não existe. Existe sim o físico e o não físico.

A verdade é quase nada, de tão múltipla.

Bastantes opiniões por aí em volta. E aderimos a este ou àquele que opina, ou não. Penso no que é uma opinião: tudo o que vivemos até agora e agora mesmo, nos leva a conotar a realidade da nossa forma, da nossa única forma. E, portanto, a opinião expressa por alguém chegará a cada pessoa de várias maneiras, cada uma única. Oh! É como se o infinito fosse esférico e houvesse infinitos pontos que vissem outros infinitos pontos, todos distintos. É-nos completamente impossível ver do mesmo ponto, e, assim, ver a opinião de quem quer que seja da mesma forma como o autor da opinião a formulou e depois a exprimiu. É estranha, esta impossibilidade. Torna de completa insensatez qualquer crítica (visto que não dá para criticar o que não se conhece)! Ai, que impotência e insanidade.
Talvez seja por esta impossibilidade que podemos estar a amar e sermos considerados como estando a morrer, a desaparecer ou a condenar.
É porque a realidade está lá e a verdade está em cada um. Mas esta distância! Não somos nós a realidade? Nem a nós vemos reais, apenas verdadeiros. Deve ser isto.
O criador da opinião é que a tornou real, que a vê e sempre a verá real, porque é obra dele. Assim, Deus, como criador da realidade, é o que a consegue ver real. Se é que Deus vê...

Talvez a realidade exista e a verdade não.

Existe maior punição que a consciência?

Eu era só observadora.

Eles eram vividos, consistentes; tinham vivido nos tempos do António de Oliveira Salazar. Falavam da sua educação, da austeridade das suas referências de infância. Falavam de reguadas que tinham levado não como quem lamentava, não como quem se regalava mas como quem agradece. É uma gratidão de quem recebeu o castigo como uma lição e, por isso, aprendeu. Uma aprendizagem forçada, seca. Acho que nem o é, é só assimilação de regras impostas. Maturidade alcançada, é a consciência que julga e aí é que se entende alguma coisa dos actos impensados, movidos a medo e resignação, do passado. Talvez daí a gratidão.

Como espectadora, não deixei de sorrir porque o seu entusiasmo era notável e sabiam discutir, eram queridos.

O tema emergiu dum caso mediático, o da menina que persistiu na luta pelo seu querido telemóvel, passando por cima de uma pessoa que a tentava ensinar.

Aquele grupo de almas vividas referiam algo como a falta de autoridade dos pais sobre os filhos. E continuavam a relembrar os seus tempos de juventude.

Eu acho autoridade uma coisa feia porque a necessidade dela deixa transparecer a nossa mediocridade. É a velha discussão sobre a anarquia e a autocracia. Há os que gostam da liberdade e há os que defendem um bom senhor omnipotente. São extremos. Gritar com a professora é um acto de rebeldia, infantilidade, desrespeito não muito pela autoridade, mais pela pessoa. Existem dois motivos possíveis, a meu ver: a personalidade própria; ou a inconsciência e falta de autonomia, de liberdade para aprender por si: fazes isto porque eu quero que seja assim (não sei porquê ou não tenho paciência para te explicar ou tu não irias perceber), o que leva à rebelião contra as "regras".

Infelizmente, a autoridade é necessária aqui porque a desordem se imporia e a instabilidade impediria uma vida decente. Isto é bem pena. Se, neste caso, não existe consciência moral suficiente para que haja paz, lá está a autoridade. E esta é uma pura chantagem psicológica que nos amedronta (não cometemos o erro por sentir receio de NÓS sermos prejudicados - egoísmo). Pois a chantagem psicológica falhou, previsivelmente. Porque, felizmente, nem todos têm medo.

Os senhores falavam de lições que tinham dado aos filhos com um grande orgulho. Os filhos tinham um comportamento que não os agradava e esses senhores, como pais, já depois dos anos-base da educação, impuseram regras, falavam: "as regras desta casa são estas e se tu ainda vives sob este tecto, tens de obedecer." Isto é um caso comum. Lamento tanto isto, é claramente o resultado de uma educação falhada (se não tinha sido até aí, esta imposição de regras estraga tudo: os filhos continuam com o seu comportamento - as suas convicções são mais fortes - ou mudam, não por consciência própria mas por dependência financeira). É triste.

Em conclusão, a autoridade são estúpidos e para estúpidos.

Recomendo este vídeo, que diz tudo. Notem bem a música:
Já não é 21, é só 20%! Que grande vitória do Governo, esta baixa de imposto!
Primeiro, não é vitória alguma, visto que as vitórias são metas alcançadas com grande efeito no bem-comum. E isto pouco beneficia a população. Beneficia a imagem do Governo e a confiança em si próprio (sim, duvido que este 1% altere a credibilidade da População no Governo). Depois, a dita vitória é do Povo Português que empobrece para que as contas públicas se estabilizem. O dever do Governo é gerir o dinheiro, sim. E se o défice baixou, parece que houve uma boa gestão. No entanto, o défice não deve ser um valor que se sobreponha ao poder de compra da População e a tudo o resto. Neste momento, o Governo responderia afirmativamente à pergunta: os números são mais importantes que as condições de vida da população?
É-me difícil apontar alternativas, mas isso não me cabe. Cabe à oposição, que também não o faz.
Não é Portugal que está mal, é o que o gere. E nós somos responsáveis por isso, também.

Aos meus amigos (Como adoro nossas almas juntas)

As almas, as almas! Oh, nós podemos ser maus, podemos gritar e ficar amuados com as nossas almas. Mas nós gostamos tanto delas. Vivemos sem elas, sem dúvida. No entanto, ai, a nossa felicidade só é real quando é partilhada, como disse o rapaz do filme "O Lado selvagem" que desde já aconselho veemente.
Aquele tédio de já ter feito tudo o que tinha planeado quando o tempo esticasse e fosse todo meu, bem grande, está a me penetrar e isso chateia-me. Chateia-me as pessoas que me acompanham sempre não estarem por perto agora quando este meu tempo só já me é suficiente. Ocupar o tempo não é o problema, porque, felizmente, há coisas bem boas para fazer. Ai, mas faltam as pessoas! O estar connosco é bom. Contudo, é algo que não pede muito tempo, é algo que nos equilibra, mas dá energias para darmos! A quem? Os nossos não estão, pá. Oh, e sinto tantas saudades da nossa bela Lisboa de Sol! O movimento de cidade, as pessoas, o Tejo, a cultura. Que tédio, que tédio aqui.
E lembro quando acontece aquela magia das almas se juntarem e criar aquela química fantástica de rir, de sorrir para, de gritar e de levar o grito até ao céu... O convívio não só convívio, o convívio com as nossas pessoas, que já dormiram, representaram, apanharam sol e chuva, discutiram o mundo connosco, que já fizeram de um-tudo, as almas juntas. Oh, nós sozinhos somos nada. Agradeço a toda a alma de quem sou e que é minha. Tratemo-nos bem, pá.

Apetece música, música, música. Tudo música. Toda música.

LUA

Lembro-me tão bem do "Pequeno Cavalo Branco", um livro que a minha mãe me deu quando eu era pequena. Havia muitas descrições da noite e da Lua a iluminar os bosques... Luz prateada! Era essa a expressão. E eu criava uma imagem mental tão bonita, tão pura, tão completa.
É essa luz prateada que agora me ilumina, quase exclusivamente. Oh, como me deleita tal carícia por sua parte. Obrigado vida, obrigado Deus.
Ontem Pessoa dizia que quando falamos "amo-te" não amamos realmente porque todos o dizem, todos temos mentes diferente. Todos temos alma, todas elas distintas e sentindo de formas não iguais. Discordo. O sentimento que vem cá de dentro é essencialmente o mesmo: é como a sede ou o prazer, acho eu. Claro que é possível dizê-lo sem sentir. Acho que é daquelas coisas que não valem a pena ser explicadas, não precisa de o ser. O amor, só por si, já preenche e não quer dúvidas nem contestações porque é muito cá de dentro e a razão dirá que não amamos se a tentarmos encontrar no amor.
Inspirar a Lua sem a desfazer: não é óptimo? É o ideal de perfeição: inspirar a vida sem a desfazer e até a lhe dar algo de nós, sem nos desfazermos. Oh! Fantástico! É essa a meta: dar recebendo, sem destruições.
Este crepúsculo em cima de mim, tão misteriosamente longe mas tão dentro de mim, não vai embora, pelo menos no meu tempo. E perceber que os antigos estavam tão certos! E perceber que tantas vidas só num planeta que anda, sem ficar tonto, em volta do Sol, são multiplicadas infinitas vezes por cada estrelinha que ilumina aqui em baixo, aqui dentro, intermitentemente.
E ainda não entendi se Deus é uma entidade. Entidade pressupõe personalidade e isso seria injusto... Bem, é melhor sentir só ele a fazer-me cócegas do que pensar.
Agradecida pela magnificência da Lua, acho que a Deus.

Olhei e saltei logo. Não era um insuflável porque divertia mais ainda e não era daquelas cores berrantes. Eram branquinhas, bem fofas e não se davam lá pés suados. Só almas. Epá, saltei, fui projectada, saltei, caí, rolei, voltei a ser projectada, morria de tantas cócegas. A minha alma. É incrível como a espontaneidade nos é tão deliciosa, mas custa tanto. Ai, às vezes parece que só passados milhões de anos de convívio com aquela pessoa conseguimos ser só nós, só mesmo o que somos cá dentro. E é tão giro espreguiçarmo-nos assim, sem medo que se veja a barriga, sem qualquer receio. Dá tanto prazer saltar e rolar nas branquinhas que nos deixam tão à vontade. A espontaneidade é muito boa.

Por outro lado, a espontaneidade também pode ser feia e rude. E aí, aquele secretismo e mistério implicados pela falta de confiança soam melhor. Aqueles olhares de quem não se conhece e aquela tentativa de impressionar, não espontaneamente, mas sempre com um pouco de nós. De certa forma, é pose, mas uma pose do que nós queremos ser, e isso também somos nós, não é? Talvez até possamos chamar a isso espontaneidade, visto que nos conforta tanto. Só que é de outro tipo.

Combinar um pouco da espontaneidade e do misticismo romântico, espontaneamente, talvez seja o ideal. A vida pode-nos ser tão amável. É ela que é branca, branquinhas, e que prefere almas.

O mundo está a mudar bastante. Sempre. A evolução é constante e a destruição faz parte dela. As notícias têm anunciado um fenómeno inédito na bolsa, que eu não consigo entender. Parece que vem aí o apocalipse. Os ursinhos polares deixaram de ter comida, pá. As pessoas têm tido cada vez menos comida, ou cada vez mais. A China produz como louca. As pessoas aproximam-se e afastam-se. A Natureza transtorna-se.
Li que amar agora ainda é mais importante. Parece que vão haver grandes metamorfoses e teremos oportunidade de ser muito, ou nada. Tenho medo de ser difícil ultrapassar todos os desastres físicos. Tenho medo de ainda sermos muito fracos. Tenho ainda mais medo de não morrer logo. Tenho medo, mas acho crucial.

Estava sentada, à mesa, e lia uma daquelas embalagens que envolvem lenços refrescantes, que publicitava o restaurante, dizendo que estava fechado às Segundas-feiras. Estava escrito em Italiano, e, para perceber a que dia encerrava, tive me recordar dos poucos conhecimentos adquiridos nas muito passadas aulas de Francês (ai, aquelas aulas em que era impossível não gargalhar lá do fundo, que nos deliciavam tant). E interroguei-me sobre o porquê da semelhança entre essas línguas e a diferença com a Portuguesa, visto que todas são latinas. Investiguei e descobri que os dias da semana do Francês, Italiano, Espanhol, são nomes pagãos: cada dia é um planeta, derivam do calendário babilónico. O Domingo é o dia do Sol, a 2ª feira é o dia da Lua, a 3ª feira é o dia de Marte, 4ª é o dia de Mercúrio, a 5ª feira é o dia de Júpiter, 6ª é o dia de Vénus e o Sábado é o dia do planeta dos grandes anéis, Saturno.
Os nossos dias da semana têm origem nos tempos em que o Cristianismo começava: a liturgia católica dizia que os dias da semana da Páscoa eram os dias santos em que não se deveria trabalhar. Começava no Shabbat (sábado) e depois vinham a primeira feria (feriado, férias), a segunda e aí por diante. A evolução fonética tornou a feria em feira. Mais tarde, um imperador quis que a Prima Feria fosse Dies Dominica (dia do senhor). E ficámos com a Segunda feira, a Terça... Para sempre, não só na semana de Páscoa.
Ou seja, todos os nossos dias são férias.

As ideias são imenso, sim. O nosso mundo tem tantas, e sabe expô-las! As ideias são, na verdade, teoria, são mentes, não têm um carácter pragmático.
A mente! Um lugar que me apraz tanto. E gosto, sempre gostei de me deleitar com os sonhos, a divagação. Gosto de estar a pensar e aquilo ser imagem que mais ninguém vê; ser uma música que só eu ouço; ser uma espécie de nuvem que apalpo, só eu; ser um perfume tão surreal e por isso inodoro para todo o exterior, até para o meu nariz, é só a alma que o sente; ser um biscoito molhado em café e bem crocante. Tenho algo em comum comigo mesma, é a minha intimidade. Gosto que tais sensações permaneçam só em mim. Gosto que tais sensações permaneçam em cada pessoa. Somos, cada um, uma individualidade e isso é muito interessante.
Agora, o problema. A teoria existe em exagero e fazemos tão pouco… Agimos quase nada. Falo em nós porque nós somos o governo e leis há tantas, tão chatas. E a acção no que é prioritário é pouco existente. É como se estivéssemos todos num estado de preguiça tal que preferimos ficar connosco ou connoscos. Será que lembretes no telemóvel nos vão ajudar a fazer sempre aquilo que dizemos que vamos fazer?
Opah, eu acho que estamos vivos e nos devíamos comportar como tal.
E isto são tudo ideias, mentes, teoria. E agora invalido tudo o que disse e que alguma vez direi porque nenhuma ideia sem acção vale o que quer que seja (note-se que a acção também pode ser interior na medida em que nos transforma cá dentro e, por isso, transforma o nosso comportamento). E esta tagarelice mental que não me impele para a acção sempre! Só impele às vezes. Deve ser porque só como o biscoito molhado em café crocante às vezes. Talvez a maioria dos meus pensamentos sejam ilusões e não sejam as sensações íntimas. Ilusórias também?

Ouço o feito há uns bons anos. Agrada-me. Não me leva, não me puxa, não me pressiona. Está aqui, uma presença confortável, forte. Mas não me pressiona. Ofereceu-me colo e eu aceitei, contente como uma criança.

E embalada por esta música, apetece escrever pensando pouco: a cabeça quer cair, rebolar e desaparecer. A cabeça quer mesmo e chora por isso. E isso pesa-me e dói.

E pressionada pela cabeça, embalada pela música, quero nada, nem que a cabeça pare de chorar. Nem sorrir. Pura preguiça, ou desânimo. Ou desânimo. O colo agrada, agrada. O exterior não me tem sorrido muito. Com excepção da música que me embala. Não me tem sorrido nem eu quero. Quero nada. Não me tiraram, eu não me tirei o que quer que seja: que aconteceu? A cabeça berra, birra. Feio, é tudo tão feio. Sou tudo tão feio.

Sinto falta da liberdade de não cair. Da liberdade de querer algo.

Embala-me tão bem, tão bem que o sorriso já é de amor. A música também é Deus.

Agora chegaram coisinhas bonitas. Fortes, bem fortes! Não são agudas, são estranhas e devem vir de um buraco negro que nos quer lá.

Deus, amor: basta para descrever a cura.

Agradecida pelo colo, pah.

Teoria do Caos

O bater de asas de uma borboleta num lugar pode desencadear um tufão no outro lado do mundo. Fui tão certa ao dizê-lo. Já tinha construído tanto em volta, por baixo até. E sinto-me tão certa ao pensá-lo.
Antes tinha questionado. O nome é um tanto-quanto apocalíptico, a ideia também. No entanto, parecia-me tão verdade, sempre me pareceu tão verdade que comecei a observar para comprovar. Comecei a olhar as reacções, os efeitos das acções, das causas. Leis, muitas leis, muitos nomes. A ideia acaba por ser a mesma. E só pela observação, pela experiência, é que percebi a razão da minha certeza. Não é só o bater de asas, é o bater de asas em certo contexto. A observação tornou isto óbvio: aquela palavra que disse sem pensar deu aso a uma confusão de todo o tamanho; a subida de um grau celsio desiquibra isto tudo; o meu aplaudir provoca o aplauso de uma plateia enorme, o que vai causar uma emoção tal nos actores que os vai motivar a continuar, a progredir. Fiquei mais descansada por não ser arrogância. Deve ter sido uma associação inconsciente, já fazia parte.
E não te consegui explicar isto. Desculpa, porque isto sim, foi arrogância.

Deus

Por mais que viajemos, o nosso horizonte é sempre uma linha recta. E todos nós acreditamos que a Terra é uma esfera um pouco achatada nos pólos, pronto, uma esfera aldrabada. E acreditamos nisto porque Fernão de Magalhães o provou e isto tornou-se algo indubitável. Mas o horizonte continua a ser uma linha recta.
E agora: Deus existe?
A ideia de Deus parece uma ideia cómoda. Ele criou-nos e se somos burros, foi ele que assim nos fez. Se existe fome, é porque ele quer e assim por diante.
Eu não concordo com o conceito de Deus que nos torna acomodados. Sinto que Deus é energia, não tem vontade, é uma entidade perfeita. Acho que tudo sempre existiu e não haverá fim, macroscópicamente. No microcosmos, aí sim, penso que houve criação e foi Deus o seu autor. E a nossa galáxia é o microcosmos, pah. É incrível, mas é (as estrelas são muitas!).
A Natureza autoregenera-se. A Natureza é perfeita. Temos o livre arbítrio e consciência: Deus não é responsável por nós. Deus inspira-nos. E se não fugirmos à nossa alma, somos felizes. Não vejo Deus, mas vejo a perfeição de tudo, vejo a inteligência tão máxima que nos permitiu nascer (a possibilidade de estarmos vivos é um conjunto de coisinhas que, não me digam por acaso, estão na medida certa: qualquer alteração, mínima, impediria a nossa vida).
Não vejo uma linha recta, vejo maravilhas, maravilhas.

O sentido está mais puro. Cada vez o mundo se torna mais bonito na minha mente. Ela agora é só delícias. E as proposições vão-se. E a experiência não se conhecer sequer por fora.

Muitas palavras, pensamentos completamente impensados, desabafos, confiança, muita confiança. É este o ambiente. E estou ali contigo. O silêncio entre nós não é aterrador, nem ensurdecedor, nem nostálgico. É de me fazer chorar. Tu, vocês, merecem uma pessoa decente.
Críticas que me fazes, com algum nojo. Críticas que eu ouço e finjo ignorar por não serem críticas negativas. Críticas que me fazes por não gostares de eu ser chata e querer ser o teu grilo. E é por isto que não são negativas. Tu, vocês, são pessoas e fazem-me sentir não pessoa, só por existirem.
É impossível. Não dá.
Já nasci impedida de ser amada por ti, por vocês. É porque eu me impeço. E como ao nascer, o eu veio comigo, é impossível.
Lamento tanto não conseguir fazer descansar o silêncio fazendo te sentires bem. Lamento não conseguir. Lamento a falta de alegria e o eu estar e ser.

VOAR

Livre, livre, livre.
Aquela sensação de que as nossas ideias estão já no mundo. Há quem as conhece, e isto dos outros terem uma parte de nós, genuína, é muito giro.
E há liberdade, há aquela coisa de deliciar-se com a música. E ler, ler um bocado do ser do autor. E rir sozinho porque apetece correr e fazer bolas de sabão. E sentir a harmonia do Bem a entrar e a não sair depressa. Ai, ser livre é óptimo. E o contacto com as pessoas é só a nossa expressão facial.

Adoro escrever isto, pah.

Ah, Parabéns primo.

Coisas minhas.

Deram-me coisas, eu fui buscar outras. Estou, cheia cheia de coisas, portanto. Mas não são materiais, são coisas para me ocupar. Mas não estou ocupada, porque deitei as coisas todas para a cama e não me apetece perturbar-lhes o descanso. Só que a cama quer se levantar e ir à sua vida. Agora tenho as coisas na mão e não quero que elas me ocupem. Todo e qualquer lugar que, hipoteticamente, poderia servir de apoio, olha para mim com cara de "a responsabilidade é tua".
E pronto, agora já estou ocupada, para me desocupar daqui a uns tempos.

A música está a puxar-me. O céu já fugiu e não me quer com ele. A música é forte, pah. É forte e apetece-me sê-la.

Gostas de Portugal como teu país?

Agora que a votação está encerrada, vamos analisar. Então, 68% daqueles que votaram afirmam amar o país, não fanataticamente, o que é muito positivo. Tendo em conta, que a maioria foram jovens, temos aqui a prova de que, afinal, sabemos valorizar as coisinhas boas do nosso belo país e que não achamos que os outros são melhores. 21% disseram que gostam, sim senhores, por causa da "pacatice" das pessoas, reflectindo assim o quanto a população gosta do convívio: muito bom, pah. Por outro lado, 11% fizeram jus à ausência de censura e negaram gostar de Portugal. Como justificação, 8% votaram no "isto está muito mau!". Adoro isto, porque significa mais não concordar com as medidas do governo do que não gostar do país, o que revela o espírito crítico, espero bem construído. O que resta são 3% que disseram não gostar nada: agradeço a sinceridade.
Agradeço aos que tiveram a consideração de votar.