Por vezes, embrenha-se de tal forma na sua mente, que se esquece de olhar, até mesmo dos olhos.

A cor do assunto

Olhei e saltei logo. Não era um insuflável porque divertia mais ainda e não era daquelas cores berrantes. Eram branquinhas, bem fofas e não se davam lá pés suados. Só almas. Epá, saltei, fui projectada, saltei, caí, rolei, voltei a ser projectada, morria de tantas cócegas. A minha alma. É incrível como a espontaneidade nos é tão deliciosa, mas custa tanto. Ai, às vezes parece que só passados milhões de anos de convívio com aquela pessoa conseguimos ser só nós, só mesmo o que somos cá dentro. E é tão giro espreguiçarmo-nos assim, sem medo que se veja a barriga, sem qualquer receio. Dá tanto prazer saltar e rolar nas branquinhas que nos deixam tão à vontade. A espontaneidade é muito boa.

Por outro lado, a espontaneidade também pode ser feia e rude. E aí, aquele secretismo e mistério implicados pela falta de confiança soam melhor. Aqueles olhares de quem não se conhece e aquela tentativa de impressionar, não espontaneamente, mas sempre com um pouco de nós. De certa forma, é pose, mas uma pose do que nós queremos ser, e isso também somos nós, não é? Talvez até possamos chamar a isso espontaneidade, visto que nos conforta tanto. Só que é de outro tipo.

Combinar um pouco da espontaneidade e do misticismo romântico, espontaneamente, talvez seja o ideal. A vida pode-nos ser tão amável. É ela que é branca, branquinhas, e que prefere almas.

Sem comentários: