Andar à chuva
Era fininha, delicada, cheia de vontade de dar. Mas as pessoas assustavam-se. Todas se cobriam e corriam naquele passo tão medroso. Ela não era assustadora. Aliás, ela tocava e ficava ali a refrescar tão suavemente. Umas gotas desfaziam-se ao tocar a minha mão, tornando-a calma e bonitinha. Havia outras que permaneciam originais, perfeitinhas. Agudas, tão agudas eram elas: daí o susto. No entanto, era o entusiasmo em dar um pouquinho de água, era o entusiasmo de poder renovar sem constipar quem fosse. Oh, as pessoas fugiam. Tola, abria os braços e olhava para o céu agradecendo aquele mimo. Desdenhando, ria e desenrolavam-se dentro da mente juízos que viam Tola ridícula. A chuva ofereceu e ficou triste pela pequenina receptividade. Mas não se viu tristeza em quem não recebeu. E isto impele para tanto: quem dá satisfaz-se melhor que quem recebe.
Hoje vi um famoso clip no youtube "prova de amor" e pousei nele, cogitando. Ela sofreu, ela ficou atada naquele nó de culpa involuntária simultaneada por gratidão culpada. Ele foi transbordando de alegria, quão bom tinha sido, a perda ainda o tornava mais forte. Isto gera uma tempestade cá dentro que me faz sentir que é egoísta dar, e generoso deixar-se receber. Oh, que estranheza de pensamento.
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