Por vezes, embrenha-se de tal forma na sua mente, que se esquece de olhar, até mesmo dos olhos.

A cor do assunto

O meu dia 18.

Logo no início, um atraso grande à aula de suposta Filosofia: esta que é regras e colecção de coisas: Aristóteles chato.
Vi tudo neutro. Tudo era mais ou menos bom. Tudo me foi pouco feliz mas não não muito feliz (repetição propositada). Tudo se sugou e eu fiquei. TUDO ! Fugi para a plateia de novo, passado tanto tempo em palco. Lá, encontrei uma amiga e com ela subi ao palco: fomos juntas divagar e concordar tão enérgica, plena e bonitamente que levitámos. No entanto, o palco era-nos indiferente e nós a ele. Para as personagens, nós éramos cenário. Para as personagens, não para os actores.
Aqui fomos também sugadas pelo vento bonito, bonito. Todos juntos. Continuei em cena. Ela não sei, perdi-a na confusão do vento. Mesmo continuando lá em cima do palco, pensaram-me no público e puxaram-me tentando levar-me para onde já estava. Estava no mesmo chão que eles, apesar de distante. Puxaram-me bem. Sem dúvida, a conquista está evidente. Agradecida, estou. Muito agradecida à pessoa, à pessoa que reúne os bocados de pessoas que me ajudaram. A pessoa na qual me incluo. Agradecida a Deus! Agradecida à existência das pessoas da pessoa.

Ser professor

Aqui está uma profissão que eu sempre maldisse no que se refere ao estado degradante ao que o profissional chega, não à sua função, como é óbvio .
A pessoa estuda para ensinar: do latim insignãre «gravar um sinal» . Doutrinar, ministrar conhecimentos a alguém (não só transmitir, gravar no educando).
Imaginemos ser assim um gajo cheio de estilo. Um gajo cheio de estilo que adora desporto, mas que consome livros . Inteligente, muito ! Tem uma cultura que até se torna enfadonha, para ele, por não conseguir discutir isto ou aquilo de tão importante mas rebuscado . Bem, este gajo cheio de estilo decide tirar um curso de Física . Como é bastante sociável e não se quer limitar às pessoas que sabem tanto quanto ele, resolve leccionar ! Assim, do nada . O gajo pensa que é perfeito: juntar o útil ao agradável . Ser o professor todo cool e inteligente .
É aí que ele entra numa escola, pública . Vai dar lições ao 3º ciclo de Físico-Química, para começar . Agora imaginemos ele como professor duma turma típica, da nossa, por exemplo . Logo no primeiro dia é desrespeitado na maior, naturalmente . A culpa, não pode ser inteiramente atribuída aos alunos: gravar conhecimentos a cada um dos 30 alunos não é só inviável, é mesmo inconcebivelmente utópico . Porra, o gajo cheio de estilo passa uns 5 anos a despejar matéria, de forma interessante, para 1 ou 2 alunos dos 30, mas não a doutriná-los . Este professor cheio de estilo, eloquente, falava bastante e os alunos não aturavam . Eles viravam-lhes costas e jogavam às cartas . Fica frustrado por ninguém se interessar . No entanto, cria . Cria bem . Várias formas de arte . Aproveita as suas infindáveis potencialidades .
Passados os 5 anos, ele torna-se professor do Secundário . Tem esperanças, visto que vai doar alguns dos seus maravilhosos conhecimentos aos que querem . Lá chegado, as coisas são iguais, com menos alunos na aula, logo, menos interessados . É transferido várias vezes e passa-se com a instabilidade pouco excitante da sua vida (ele gosta de dinâmica e de mudar de rotina, mas esta tornou-o um palhaço sonhador) .
Esta história foi uma perspectiva até bem positiva, seja dito de passagem . Mesmo assim, a vida de professor é decadente . DEMASIADO DECADENTE .
E, apesar da maioria dos professores deste país serem tão mal tratados, cada vez existem mais e mais pessoas a querer exercer a bela da profissão . É isto que eu não entendo ! É plenamente bela . Quando bem exercida, é de um mérito tremendo . Porém, todos nós somos conhecedores da raridade disto .
Será que os jovens professores que estão agora desempregados tinham aulas privadas ? Ou será que são masuquistas ? Who knows ...