Por vezes, embrenha-se de tal forma na sua mente, que se esquece de olhar, até mesmo dos olhos.

A cor do assunto

A ironia de se ser abelha

Foi ao ver o Bee Movie que caiu sobre mim uma vontade de entender. Elas são um belo exemplo do que é uma sociedade organizada, mesmo não pensando. É de louvar o seu papel na Natureza, já para não falar no maravilhoso mel. E quando precisam de se defender têm uma arma: o ferrão. E nós, nesta sociedade desequilibrada, desde pequeninos que tememos ser picados pela abelha. Até criamos mitos sobre a questão. Agora pensemos nos dois lados da situação: a abelha sente-se ameaçada e o seu instinto fá-la picar, o humano está assustado e não se mexe. A abelha prossegue em direcção à pele humana, o humano treme. A abelha não pensa, portanto, não sabe que vai morrer se picar a sério. Mas assim, ela também não picaria o humano porque não o saberia uma ameaça. Então, acho que o facto de elas não pensarem, não é um bom ponto de partida. Mesmo porque o instinto pode ser bem mais útil do que o pensamento (temos bem consciência que por vezes a reflexão é desviada pelo nosso desequilíbrio emocional e as coisas não correm bem). Agora, será que o instinto lhes "diz" que podem morrer em honra de salvar a colmeia? Supondo que sim, realmente são animaizinhos muito corajosos e são um exemplo do que é viver em comunidade. Se não, talvez ainda seja melhor, porque assim, "sem saber", salvam de qualquer forma não sendo demovidas por nada.
Que ironia, que interessante.

Mini-cenouras

Há dias em que nada adianta. A anormalidade supera tudo e não deixa se viver como o todo. Ai, tudo cai, ficando torto e afigurando-se estranho. A reacção natural é rir, rir descontroladamente.
E o normal? O normal é chato mas tão estupidamente essencial. O modelo é importante para entender certas coisas e para não haver perdidos. Que desorientação, mas que conforto, que liberdade.
Oh, tantas vezes o problema é "isso não se faz". Onde está o drama em descascar um pêssego para comer, à porta do estádio, antes de um treino de futebol? O que tem de mal em gritar e saltar de alegria no meio das pessoas? Onde está a falta de educação em nos espreguiçarmos da forma que entendermos naqueles momentos de preguiça (redundância propositada)? É tão gostoso! Por que não elogiar algo num desconhecido, se gostámos tanto? Parece que os olhos das pessoas agora são celas intransponíveis. Conseguimos deixar de fazer coisas que dão tanto gozo, por... pieguices!
E espreguiçarmo-nos, gritar... não é anormal, é muito muito normal. Este completamente estranho e desfigurado preconceito é que me mata. Nascemos todos porcos e depois andamos a ensinar aos nossos filhos para não se sujarem. É tão bom sujar-se (isto lembra-me qualquer coisa)!
O normal, então, é para nos orientar a perceber que este preconceito é irracional e nos aprisiona. O anormal não é para nada. É. E isto é muito melhor.

Sei lá.

Sobrevoo as nuvens, neste momento. Mas elas continuam por cima, com toda a sua fofura e sedução. Eu não sei, já fui considerada anormal por adorar este fenómeno que torna a Mãe Natureza a melhor escultora de todos os tempos. Pensar no que elas são cientificamente leva todo o encanto (afinal não dá para saltar nelas como em insufláveis). Contudo, como Pessoa diz, "tudo é absurdo e o sonho é o que menos o é". E, então, sonho e salto, deleitando-me no sonho que é pouco absurdo, por isso, sou até mais normal. segundo Fernando Pessoa.
Epá, mas eu digo "nada é absurdo, nem ridículo, nem óbvio". A realidade só é conhecida por seres omniscientes e nós não o somos. Portanto, sem ter conhecimento de tudo o que conduziu a certa acção, não estamos aptos para designar o absurdo. E os seres com o privilégio (ou responsabilidade) de saber tudinho, não irão achar nada absurdo porque as questões que nos trasncendem explicam tanto e tornam normal, o que quer que seja. Discordo dele, portanto. No entanto, sobrevalorizo o sonho e é nesse sentido que sou menos anormal perdendo-me na minha mente, imaginária também.
O ilusório é um bicho estranho porque não se distingue: chego a não o saber ilusório. Mas é o inconsciente? O nosso inconsciente é o que em nós é menos ilusório e mascarado e é ele que mistura coisas lá de fora com as cá de dentro e faz os sonhos surreais que lembram por vezes, as mais castanhas, as criações de Dali, as mais vivas, as de Kush. Então, serão estes sonhos ilusórios ou o mais verdadeiro espelho ao qual nos podemos estrangeiramente ver? Ilusório significa não ter acontecido no exterior? Então e o que se passa dentro não vale nada? Talvez designemos este nosso subconsciente de ilusório por medo.
A quimera não existe porque tudo o que eu sinto, sei ou empurro está na minha mente, por percepções. Oh God! O ilusório não existe. Existe sim o físico e o não físico.