Por vezes, embrenha-se de tal forma na sua mente, que se esquece de olhar, até mesmo dos olhos.

A cor do assunto

Um poema de Manuel Alegre [ belo ! ]

Que o poema tenha rodas motores alavancas
que seja máquina espectáculo cinema.
Que diga à estátua: sai do caminho que atravancas
Que seja um autocarro sob a forma de poema.

Que o poema cante no cimo das chaminés
que se levante e faça o pino em cada praça
que diga quem eu sou e quem tu és
que não seja só mais um que passa.

Que o poema esprema a gema do seu tema
e seja apenas um teorema com dois braços.
Que o poema invente um novo estratagema
para escapar a quem lhe segue os passos.

Que o poema corra salte pule
que seja pulga e faça cócegas ao burguês
que o poema se vista subversivo de ganga azul
e vá explicar numa parede alguns porquês.

Que o poema se meta nos anúncios das cidades
que seja seta sinalização radar
que o poema cante em todas as idades
no presente e no futuro o verbo amar.

Que o poema seja microfone e fale
uma noite destas de repente às três e tal
para que a lua estoire e o sino estale
e a gente acorde finalmente em Portugal.

Que o poema seja encontro onde era despedida.
Que participe. Comunique. E destrua
para sempre a distância entre a arte e a vida.
Que salte do papel para a página da rua.

Que seja experimentado muito mais que experimental
que tenha ideias sim mas também pernas.
E até se partir uma não faz mal:
antes de mulelas que de asas eternas.

Que o poema assalte esta desordem ordenada
que chegue ao banco e grite: abaixo a pança!
Que faça ginástica militar aplicada
e não vá como todos vão para França.

Que o poema fique. E que ficando se aplique
a não criar barriga a não usar chinelos.
Que o poema seja um novo Infante Henrique
voltado para dentro. E sem castelos.

Que o poema vista de domingo cada dia
e atire foguetes para dentro do quotidiano.
Que o poema vista a prosa de poesia
ao menos uma vez em cada ano.

Que o poema faça um poeta de cada
funcionário já farto de funcionar.
Ah que de novo acorde no lusíada
a saudade do novo o desejo de achar.


Que o poema diga o que é preciso
que cegue disfarçado ao pé de ti
e aponte a terra que tu pisas e eu piso.
E que o poema diga: o longe é aqui.

De Manuel Alegre.
[ Diz tudo !! ]

Pólos !

Os humanos . Os humanos são inteligentes . Certamente . Incontestavelmente . No entanto, os humanos sentem, sentem . Talvez esse seja o maior defeito dos humanos . Se não houvessem sentimentos, não existiriam confrontos e, consequentemente, deixaria de haver guerras e mortes despropositadas . Se os humanos não sentissem o mal .. também não sentiriam o bem ! Ai ! Não me parece bem . Deixar de sentir ? Sentir é uma virtude ! Ai ! Que estranho ! Contradições . A verdade é que é bom, diria mesmo, essencial, que haja o mal . O mal mesmo mal . Porque tudo o q existe de negativo, existe também, na mesma proporção, de positivo .
Sendo assim, há electrões e protões, há o possível e o impossível, a recusa e a resignação, o verde e o cor-de-rosa, os caracóis e os lisos, o complexo e o básico . É giro .
Bem .. então os humanos são capacitados . Têm o bom e o mau . Fazem deles o que querem .
[Tenho noção de que há algumas contraposições neste blog.]

Homenagem à minha gata

Uma bela jovem. Cativa só de miar .. Porque parece um sapo quando o faz . Tem uma capacidade absolutamente fenomenal de atrapalhar o andamento de alguém . Gosta de ser atropelada pelos grandes . Tem uma postura bastante imponente . Mas, é, simultanemente, meiga e carente . É dona duma beleza enormemente bonita . Tem uns olhos .. Ui ! Tem um namorado . É cómica . Demasiado assustadora, por vezes . Consegue ser o mais cruel !! É apreciadora de melão, mas não suporta leite . É diferente de todas as outras .. Uma diferença grande ! É demasiado chata .. É-o mesmo muito !! E pronto . É a minha gata .