Por vezes, embrenha-se de tal forma na sua mente, que se esquece de olhar, até mesmo dos olhos.

A cor do assunto

No momento em que fechamos os olhos

Mesmo antes de adormecer. Ouço. Tudo é o que ouço.

Outono

De manhãzinha, bem acordada mas ainda na delícia confortável do sono, mordia a maçã fresquinha e embrenhava-me na Natureza. O vento estava determinado e as folhas obedeciam, caindo de boa vontade, reparando na sabedoria do sopro. Os passarinhos tímidos, sem saber se podiam cantar, tal era a majestade da natureza nesta manhã. O aconchego que o céu obrigava sentir dava-me energia para o dia.
Dali a pouco, lá em cima, o vento continuava determinado, mas as asas aguentaram-se bem e a instabilidade era divertida. O Sol brilhava mais perto e não me deixava sentir medo. Eu obedecia, conhecendo a sua sabedoria.
Olhei e reparei num bando de pássaros que dançava numa sensatez de profissional que sente o espírito do espectáculo. De cima, via a sombra do bando que mal acompanhava os movimentos, pequenina diante da sua graciosidade. O céu mantinha-se nas cores incapazes de parar de nos dar apoio.
Agradecida.

Descartamo-nos

A religião surgiu - espera, sempre existiu? - pela capacidade reflexiva do Homem, por termos aquele bichinho que nos pergunta o que fazemos aqui e para quê tudo isto. E buscamos respostas de forma tão veemente, tão devotada. No entanto, hoje, assim que nos entra uma ideologia, parece que nos apagam, parece que põe uma venda ao bichinho e fita-cola na sua boca porque passamos a entender um pouco do que isto é, mas por termos tantas respostas (e por mais qualquer coisa), perde-se o interesse. Mal olhamos para o que fazemos, mal olhamos para o que acreditamos, esquecemos que somos seres com vida inteligente e sensível. Esquecemos que sentimos arrepios profundos na alma. Esquecemos que sentimos o silêncio a entrar. Descartamos o que em nós sofre e salta. Cada vez nos desinteressamos mais por nós mesmos. Hoje, o que se procura é ocupação. Tanto tanto. Vejo impaciência, vontade de esquecer. E é pouco por ter respostas, é mais por não querer ouvir. As pessoas não querem entender o que se passa dentro de si. Não, reflectir não. Silêncio? Para totós.
Parece que há a consciência de que somos capazes de entender demasiado e não se aceita isso. Hoje prefere-se a ignorância. A ignorância do que existe aqui dentro, do que somos.
E a religião agora deixa de ter importância. Ela faz sentido a quem gosta de se ouvir e quer descobrir como mudar para cima. E, ai, vejo tão pequena vontade de mudar. Parece que aqui está-se de férias da vida.

A força que nos traz de volta

Por vezes, mesmo com esta maravilha de planeta que nos emprestam, nós deixamo-nos cair, filtramos as belezinhas e envolvemo-nos naquele negrume pesado. Olhamos para o espelho e aquilo que vemos causa-nos um desconforto tal que enjoamos de nojo. Caídos, o que acontece bem não existe. O tédio, pensamos que é o tédio. No entanto, mantemo-nos ocupados. Fazemos, fazemos, fazemos nada. E é aí. Aí é que está o enfado, o desânimo. Não é nas acções em si, é no que elas não produzem. Sabemos que fazemos. Ai, mas não sentimos que o feito seja útil! Mesmo sem entender isto racionalmente, é este sentimento que nos empurra. Nós, caímos.
E tendo tudo, não nos desenvolvemos para obter, para apenas para ter. Tantos de nós somos ociosos. E aquela moleza, que nos descontrai e até nos deixa apreciar melhor as coisinhas, sabe bem. Mas farta. E é quando isso acontece que chega o amigo tédio, já tão conhecido. O entusiasmo! É o entusiasmo que foge. Têm a mesma carga, não podem estar juntos. E como o chamar? É que mandar embora o tédio não resulta porque ele fica se pedem o contrário. Ele não responde a contrários, ele só responde a uma vontade de querer algo, não de não querer algo. Não querer o tédio? Querer o entusiasmo. E isto é motivado pela utilidade de certa acção. Ao avistar um resultado ÚTIL, queremos o entusiasmo para o concretizar. E querer o entusiasmo já é estar entusiasmado.
A moleza é óptima, o empenho também. Dediquemo-nos à utilidade. Relaxemos na utilidade.
E é esta força que nos puxa de volta à alegria de viver, é a sensação de merecermos o planeta emprestado.

Ó gente da minha terra

O Sol aqui em Portugal sabe a brisa, refresca de tão quentinho. Refresca porque conforta, torna o mesmo no novo delicioso. Os montes suaves, às vezes cansados, reflectindo aquelas cores acomodadas, outras, vibrando naquele verde que dá vontade de lhes saltar em cima. Ah, e quando aquelas ovelhinhas se espalham, desordenadas, empenhadas na sua refeição, tão lindas.
O ar, o ar é extraordinário, o ar aqui sente-se bem. Ó gente da minha terra, sintamos o ar! O céu que nos envolve é sempre tão original e motivador, é como o génio do Aladin: transforma-se em qualquer coisa, sempre para nós. Traz-nos de volta a vida que nós afugentamos. Este céu de Portugal! A praia, ai, que belezura de bem-estar. A nossa praia é compreensiva, é jeitosa, é confortável.
O português, com bigode e pança físicos ou só mentais, sabe se divertir, é bom no que toca a relaxar, empenha-se nisso.
Ó gente da minha terra, não nos embrenhemos no nosso enfado mas deixemo-nos absorver sim pelo ar português! Pelo nosso mar ou pela nossa descontracção natural. Logremos estas características típicas que estão aqui dentro, gozemos do que de tão bom somos, ó gente da minha terra. Porque também somos as ovelhas, o génio e os montes.

I'm Mr. November, I won't fuck us over, I won't fuck us over, I'm Mr. November.

Hope so, you Mr. Month.