Por vezes, embrenha-se de tal forma na sua mente, que se esquece de olhar, até mesmo dos olhos.

A cor do assunto

O tempo

Um dos maiores enigmas, para mim. Lembro-me de ser pequenina e perguntar à minha mãe como é que eu sabia quando passavam cinco minutos. Ela respondia uma coisa que pouco me ajudava, porque já não me lembro.
E as pessoas dizem. As pessoas falam do tempo que lhes voa. As pessoas sentem que lhe estão a sugar a oportunidade de viver. As pessoas dizem que o há muito passado aconteceu ontem. E as pessoas dizem tanto que até discutem porque têm cismas. E cismam tanto que apetece bater àquilo que lhes deu a certeza de que estão certas. E aquilo é o tempo, pah. Mas não se pode culpar.
As pessoas dizem e não pensam. Porquê que agora quando estamos a cantar avançamos sempre na letra? Porquê que agora excedemos o limite de velocidade nas estradas mesmo quando não temos pressa? Porquê que comemos em 15 minutos, tendo 2 horas de almoço? Porquê que escrevemos as mensagens o mais rapidamente possível, não sendo nada urgente? Porquê que os nossos pais começam a dizer asneiras e ficam hiper chateados quando as tecnologias lhes dão a volta e demoram mais de meio minuto a fazer uma coisinha? Porquê que há tanta pressa?
Acho que são as prioridades. Não existem. Adeus, qualidade. Olá números. Adeus, Miguel. Olá 120.
Talvez esta nossa ânsia de aproveitar o tempo ao máximo e desperdiçar o menos possível em coisas chatas, mas essenciais, talvez o nosso pensamento estar tantas vezes focado no tempo que gastamos o diminua. Talvez a energia criada por tantas mentes que tanto pensam no tempo o faça encolher. Acredito na coisa do pensamento. Acredito que ele é quase tudo. Às vezes, basta-me pensar para algo acontecer. E realmente, acho que as nossas ideias determinam, de certa forma, o que acontece. É, por isso, que acho que se não nos preocupássemos tanto com o tempo, ele permaneceria intacto. Assim, sendo tantas vezes impelido pela energia do nosso pensamento, ele chateia-se.

Já ninguém descobre nada.

Já ninguém descobre nada. Está tudo muito feito. Já nascemos com um mapa mundo à frente. O mapa que nos é tão natural que nunca o contestamos porque já alguém o fez e nos disse a razão de ele ser assim. Já nascemos sabendo que se come com um garfo e uma faca. Já nascemos achando que boa vida é não trabalhar. Já nascemos sabendo que temos de usar roupas. Já nascemos sabendo que o carro é essencial para irmos ali. Já nascemos sabendo que o fim-de-semana é para descansar. Já nascemos sabendo que um dia vamos ter filhos.
É como se alguém tivesse construído este modelo de vida e, até hoje, esse alguém ainda não tivesse reencarnado para o tornar menos feio.
Olhamos em redor, e vemos coisas feias: máquinas malcheirosas (carros, note-se) a serem-nos mais importantes que um amigo, edifícios tão feios e toda aquela matéria chata. Aquela matéria que nos enfeia tanto. A matéria que nos serve de esconderijo para a nossa alma. Queremos mascará-la porque achamo-la vergonhosa, porque a sabemos vergonhosa. E seria tão bonito mostrarmos a nossa vergonhosa alma sem nos envergonharmos desse acto... Seria tão bonito e tão menos duro.
Já nascemos dentro de caixas. Mas elas não nos impedem do que quer que seja. Elas só nos impelem, ligeiramente, para dentro da matéria. Mas, nós, como almas, temos toda a capacidade para sairmos dela. Já nascemos pesados e pouco alma. Por isso, quando descobrimos que o somos, negamo-lo como os gatos arranham o seu reflexo no espelho. E depois desta descoberta, ela não se cala e faz barulho. Se não a negássemos , ela musicava.

À XANA.

Olhava com tristeza os meus arredores: olhava com vergonha lamentável. Uma forte luz desviou o meu olhar e focou-o em si. Era a mais pura luz: não ofusca os olhos humanos, mas a sua consciência. A luz era a Lua! Ai, aquele astro que se permite ser paisagem. Aquele astro que nos leva com ele para os mais distantes sonhos. Sonhos distantes porque são aqueles da nossa alma, da nossa alma e não da nossa animalidade de ter. Redondíssima, grande, cativante. Quero quase morrendo não ter necessidade de mais nada senão de a contemplar, seguindo-a na viagem pelo espaço de abstracções.
Dedico-te a ti, Xana. Dedico-te estas palavras porque sei que valorizas, porque sei que as vais sentir.
Grata, Dri.

Já é Novembro. Hoje sentiu-se um frio já esquecido, um frio que não tirou lugar ao reconfortante sol. Aquele sol que faz o camelo babar-se e a preguiça adormecer. Ai, que delícia!
No entanto, o frio provocou extensos arrepios em minha alma, desequilibrada. A quantidade exagerada de exageros naquela escola combinada com todas aquelas individualidades que não o querem ser impeliram o pensamento para a sujeira, realçada pelo frio. A sujeira da consciência da inferioridade comportamental, não de pensamento, comportamental. Esta sujeira causada pelos gritos de socorro camuflados com gritos de macacos engraçados. A sujeira da Humanidade em pleno desequilíbrio, melhor, em descomunal desequilíbrio porque nem o desequilíbrio é pleno.

EU, EGOÍSTA.

Vivo uma vida que não é a minha. Tenho uns amigos que não são os meus, ajo como não sendo eu, tenho disciplinas que não me dizem nada. Quero me convencer que sou outra pessoa.


Admiro o meu modo de pensar, mas repugno o meu modo de agir. São absolutamente contraditórios. A miséria que observo na atitude comum dói-me. Dói-me sentir aquela desmotivação desiludida e aquele desiquilíbrio constante que possuem as almas que me rodeiam e que não querem admitir que são almas. Os momentos de observação: tento encurtá-los ao máximo para não cair no negrume da consciência. E esta fuga leva-me para o meu incontrolavelmente repelente agir. O agir que se opõe descaradamente à minha maneira de pensar que às vezes se afigura tão boa. Porque não o sigo? Coragem! Falta-me coragem! Se o seguisse, as pessoas que amo tanto, iam-se.

O meu dia 18.

Logo no início, um atraso grande à aula de suposta Filosofia: esta que é regras e colecção de coisas: Aristóteles chato.
Vi tudo neutro. Tudo era mais ou menos bom. Tudo me foi pouco feliz mas não não muito feliz (repetição propositada). Tudo se sugou e eu fiquei. TUDO ! Fugi para a plateia de novo, passado tanto tempo em palco. Lá, encontrei uma amiga e com ela subi ao palco: fomos juntas divagar e concordar tão enérgica, plena e bonitamente que levitámos. No entanto, o palco era-nos indiferente e nós a ele. Para as personagens, nós éramos cenário. Para as personagens, não para os actores.
Aqui fomos também sugadas pelo vento bonito, bonito. Todos juntos. Continuei em cena. Ela não sei, perdi-a na confusão do vento. Mesmo continuando lá em cima do palco, pensaram-me no público e puxaram-me tentando levar-me para onde já estava. Estava no mesmo chão que eles, apesar de distante. Puxaram-me bem. Sem dúvida, a conquista está evidente. Agradecida, estou. Muito agradecida à pessoa, à pessoa que reúne os bocados de pessoas que me ajudaram. A pessoa na qual me incluo. Agradecida a Deus! Agradecida à existência das pessoas da pessoa.

Ser professor

Aqui está uma profissão que eu sempre maldisse no que se refere ao estado degradante ao que o profissional chega, não à sua função, como é óbvio .
A pessoa estuda para ensinar: do latim insignãre «gravar um sinal» . Doutrinar, ministrar conhecimentos a alguém (não só transmitir, gravar no educando).
Imaginemos ser assim um gajo cheio de estilo. Um gajo cheio de estilo que adora desporto, mas que consome livros . Inteligente, muito ! Tem uma cultura que até se torna enfadonha, para ele, por não conseguir discutir isto ou aquilo de tão importante mas rebuscado . Bem, este gajo cheio de estilo decide tirar um curso de Física . Como é bastante sociável e não se quer limitar às pessoas que sabem tanto quanto ele, resolve leccionar ! Assim, do nada . O gajo pensa que é perfeito: juntar o útil ao agradável . Ser o professor todo cool e inteligente .
É aí que ele entra numa escola, pública . Vai dar lições ao 3º ciclo de Físico-Química, para começar . Agora imaginemos ele como professor duma turma típica, da nossa, por exemplo . Logo no primeiro dia é desrespeitado na maior, naturalmente . A culpa, não pode ser inteiramente atribuída aos alunos: gravar conhecimentos a cada um dos 30 alunos não é só inviável, é mesmo inconcebivelmente utópico . Porra, o gajo cheio de estilo passa uns 5 anos a despejar matéria, de forma interessante, para 1 ou 2 alunos dos 30, mas não a doutriná-los . Este professor cheio de estilo, eloquente, falava bastante e os alunos não aturavam . Eles viravam-lhes costas e jogavam às cartas . Fica frustrado por ninguém se interessar . No entanto, cria . Cria bem . Várias formas de arte . Aproveita as suas infindáveis potencialidades .
Passados os 5 anos, ele torna-se professor do Secundário . Tem esperanças, visto que vai doar alguns dos seus maravilhosos conhecimentos aos que querem . Lá chegado, as coisas são iguais, com menos alunos na aula, logo, menos interessados . É transferido várias vezes e passa-se com a instabilidade pouco excitante da sua vida (ele gosta de dinâmica e de mudar de rotina, mas esta tornou-o um palhaço sonhador) .
Esta história foi uma perspectiva até bem positiva, seja dito de passagem . Mesmo assim, a vida de professor é decadente . DEMASIADO DECADENTE .
E, apesar da maioria dos professores deste país serem tão mal tratados, cada vez existem mais e mais pessoas a querer exercer a bela da profissão . É isto que eu não entendo ! É plenamente bela . Quando bem exercida, é de um mérito tremendo . Porém, todos nós somos conhecedores da raridade disto .
Será que os jovens professores que estão agora desempregados tinham aulas privadas ? Ou será que são masuquistas ? Who knows ...

A PUREZA EXTERIOR ENTRANDO PELAS NARINAS E ESPALHANDO-SE PELA ALMA .

Ah, pois . Cheguei aqui sem ideia formada .
O senhorzinho António Lobo Antunes surpreendeu-me, hoje, o que é algo extraordinariamente excepcional visto que não falei com ele, nem sequer comuniquei por mímica ou algo do género . Apenas li as suas palavras, espero não adulteradas, numa revista . Um apenas que é muito . Ele viu o que há aqui de Pleno e não é a bebida, é mesmo o estado de altruísmo, de boa energia que há nas pessoas . Ele descobriu isto no hospital onde passou uma temporada . Ele conseguiu transmitir de tal forma o que sentiu que me fez, a mim, reencontrar o positivismo e a veracidade no meu conjunto de palavras "a vida é perfeita" .
Este mundo consegue ser tão maravilhoso ou tão horrível . E, agora, mais do que nunca, entendo que é tudo uma questão de companhia, de encontrar as pessoas que cumprem os nossos tão chatos requisitos . Ele realçava a generosidade recebida dos Senhores e das pessoas, as cartas de conforto e as lições de vida que pessoas desconhecidas lhe deram . Só isto é uma coisa completamente espantosa !! Num mundo onde uns senhorzinhos querem destruir para ganhar dinheiro, outros senhorzinhos querem escrever, apoiar, amar alguém . Alguém que escreveu e escreve com sapiência mas que não deixa de lhes ser um completo descolhecido . Para que conste, é claro que acho que ao ler ideias trabalhadas por a mente de uma pessoa, sabemos algo dela, um algo grande . No entanto, é-lhes desconhecido no sentido de relação humana . Eu não sou namorada do Jack White por amar a sua música .
Pronto, e é lindamente fantástico voltar a cruzar-me com a magnificência da vida . Não fujamos . É o fugir ao que somos que nos leva ao estar deslocado, ao estar com pessoas que nos são estúpidas . Essência, pessoas ! Mesmo mal considerada .
Hoje voltei atrás no tempo em que ia passear pelo mato e fugia apavorada das abelhas .O tempo em que nada me fazia ser outra . Não conhecia outra maneira de viver senão aquela . A candura infantil que deveria durar ! Ai, os tempos de colher flores para a minha mãe nos carreiros que ela não me deixava atravessar: a inconsiente forma de compensação . No fundo, o nosso inconsciente sabe tudo . A racionalidade é que nos faz pensar demasiado fundo . Bem, seja como for, a vida é mesmo perfeita .
Vamos dar-lhes (aborrecidos) o nosso excesso de boazura ?

O ser português, aqui .

"Acho que o Mourinho é demasiado bom para vir para Portugal."
Ouvi isto há uns dois minutos, no CC, e isto deixou um certo sabor amargo na minha cabeça . Pah .. Aqui em Portugal, há uma grande contradição: no que se refere ao desporto, todos dizem que Portugal é o maior e que o Scolari fez muito bem para baixar a bola aos sérvios (o que representa o preferir o nacional ao estrangeiro) . No entanto, depois dizem que isto é uma porcaria e que o special one é bom demais para vir ter connosco . Porra ! Há que valorizar o nosso e o do outro . Não ser fundamentalista, mas SER PORTUGUÊS . Gostar de estar aqui . O gostar de falar a Língua que Pessoa complexou . Se continuarmos assim, tudo se vai agravar . Porque é a paixão por Portugal que pode vencer os interesses individuais, principalmente na Política . Seria isto que poderia unir e elevar Portugal para o Bom, não para o muito (os records do Guiness já metem nojo) .
Vamos ser portugueses, 'tá ?

De novo, em resposta ao(à) senhor(a) anónimo(a)

Não, os artistas não irão realçar as tragédias . O que eu quero dizer é que toda a arte feita por pessoas deste mundo reflecte, de certa forma, os sentimentos dessa pessoa (novidade nenhuma, esta) . E, se esse artista for o representante da Humanidade, obviamente criará consequências dos acontecimentos . No entanto, agora que o(a) senhor(a) anónimo(a) me fez repensar o assunto, as tendências actuais não são feitas por representantes da Humanidade, são criadas por estilistas com um Mundo próprio, na maioria .

Em resposta ao(à) senhor(a) anónimo(a).

Relativamente às tendências serem uma espécie de consequência do que aconteceu no Mundo, foi apenas uma divagação, que me pareceu lógica, o que não a torna, de forma alguma, uma verdade absoluta . A relação entre as grandes catástrofes ou as grandes vitórias da Humanidade e a moda não é tão directa quanto usar t-shirts com fotos ilustrando-as . Falo do sentimento, de certa forma já fermentado, que surgiu nas pessoas, incluindo nos criadores, nos artistas . Acho que dá para entender .
Gostaria de saber quem é o(a) anónimo(a), por obséquio .

Assuntos variados, até demais .

Fica sempre bem estar de acordo com as tendências . Tendências ? Donde vêem elas ? Sempre me perguntei de onde os estilistas e os ditadores da moda desencantavam as maravilhas das formas e das cores que seriam mais adequadas para esta ou aquela estação . Há uns dias, estava eu numa loja relativamente engraçada, com a Bia, e, naturalmente, estávamos mexendo nas profundidades . E foi aí, que me lembrei que as tendências talvez fossem uma consequência de tudo o que de importante aconteceu no mundo nos últimos tempos . As tendências são uma espécie de previsão do que as pessoas irão sentir e irão querer parecer depois de todo aquele espectáculo de luzes que tinham já ofuscado as águias .
Matéria relevantíssima, esta .
Os pais e a garota ingleses; o sismo na Indonésia; os filhos mortos pela mãe suicída; ou o vídeo dos terroristas são só futilidades egoístas de pessoas completamente desinteressantes que nem são bons comentadores e nem sabem nada do Mundo .
Agora, falando com a seriedade possível, a Vida Humana, parece-me, a mim, cada vez menos racional . A enorme vontade de confirmar a responsabilidade por um acto grotescamente mau, e que proliferou tal dor que se diz que foi o dia que mudou o Mundo, é humana . As atitudes contraditórias dos pais médicos são humanas . A depressão que a senhora, que usou um utensílio de cozinha para destruir o que não se lhe afigurava continuável, sofria foi causada, principal e obviamente, por ela mesma: humana . O sismo é consequência dos nossos lixos estúpidos que não nos param de perseguir: lixos humanos .
E um viva aos comentadores inteligentes que ainda sabem falar !

De Mário Cesariny

Uma certa quantidade

Uma certa quantidade de gente à procura
de gente à procura duma certa quantidade

Soma:
uma paisagem extremamente à procura
o problema da luz (adrede ligado ao problema da vergonha)
e o problema do quarto-atelier-avião

Entretanto e justamente quando
já não eram precisos
apareceram os poetas à procura
e a querer multiplicar tudo por dez
má raça que eles têm
ou muito inteligentes ou muito estúpidos
pois uma e outra coisa eles são
Jesus Aristóteles Platão
abrem o mapa:
dói aqui
dói acolá

E resulta que também estes andavam à procura
duma certa quantidade de gente
que saía à procura mas por outras bandas
bandas que por seu turno também procuravam imenso
um jeito certo de andar à procura deles
visto todos buscarem quem andasse
incautamente por ali a procurar

Que susto se de repente alguém a sério encontrasse
que certo se esse alguém fosse um adolescente

como se é uma nuvem um atelier um astro

O preconceito não-preconceito .

O preconceito . As ideias pré-concebidas . O tirar conclusões, o formular opiniões, o julgar . São irreversíveis . Ouvimos a palavra e ridicularizamo-la . Vemos a imagem e pômo-la no lixo . Ouvimos o som e desligamos a fonte . Sentimos a textura e tiramos a mãos . Atitudes instintivas, irracionais, espontâneas . Irreversíveis ? São os dogmas inexoráveis . Lutamos contra, falamos contra, sentimos a favor . É o inconsciente . É a sociedade . Todos somos, poucas excepções . E se formos questionados sobre o preconceito, clarificamos logo que somos apologistas da liberdade em geral e que "gostos não se discutem" . Não falo apenas o preconceito referente à discriminação, mas daquele tão banal que se torna não preconceito . Aquelas ideias todas que nos passam pela cabeça sobre a pessoa que vai à Igreja ( ou que não vai ) . O Homem não foi à Lua ? A turma ri-se . A pessoa adora contar a sua vida no nick: cromo, coitado . Estes são juízos comuns de nós, civilizados .
Uma pessoa não é só uma característica, uma atitude ou um pensamento, é o produto da cultura . A pessoa é uma essência, um mix de aspectos interiores ou exteriores . É digno julgar a ideia, é inferior julgar a pessoa por uma ideia . Há muita coisa atrás da pessoa . Ninguém consegue impedir-se a si mesmo de emitir opiniões que a decrescem na nossa consideração .
Será que ao tocar no invisível possamos tornar reversíveis esta nossa percepção de que o nosso é o mais correcto ?

Pelo menos a luta contra fará ( esperamos nós ) diferença nas gerações vindouras . Apesar da palavra não ser a acção .

O que se encontra na janela de uma cidade grande .

Medo ? Só da morte . Deve ser mais ou menos esta a sua resposta ao serem questionados sobre o provável medo sentido estando lá no alto, martelando . Lá em cima . Eles . Em cima de tábuas . Quase soltas . Colocando cimento por cima de uns materiais algo complexos . Porra, coragem não lhes deve faltar ! Doidos: digo eu . Flexíveis: o facto . O adaptar à altura, ao ruído, às pragas rogadas pelos vizinhos a cujos ouvidos chegam as máquinas com que trabalham, ao menosprezo, ao tédio simultaneado com o ter de ser rápido e atento . Doidos e flexíveis .
Responsabilidade ! A responsabilidade de trabalhar materiais que servirão de casa para o McHitler ou para a Madre Wa Teresa Shiang . Estão limitados a uns 30 metros quadrados, apoiam-se em coisas enferrujadas (que vice-reinam enquanto esperam os futuros pilares) . Andam para cá e para lá no alto daquele prédio .
Responsabilidade de novo . A descontracção fenomenal com que fazem grandiosas obras é intrigante: experiência ou inconsciência ou banalidade/esquecimento ? Talvez um pouco de tudo . Observá-los é, na verdade, engraçado e interessante . Lá, são broeiros decadentes , pouco trabalhadores e "Ó grossa !" é a frase mais dita . Aqui, só os vi "à bulha" como cachopos no topo de um edifício muito inacabado . Um grande encargo em cima e muitos metros de altura embaixo, estão entalados .
Um bem haja aos construtores civis !

Ele esperneia, ele grita, ele esmurra, ele faz tudo que consegue para parar com tudo aquilo . Está a ser sugado por uma força incrível . Agarra-se a tudo o que encontra . Finalmente, consegue ficar seguro a uma rocha . Ela chora, chora mesmo muito . Ele não aguenta a situação e tenta perceber o motivo de tamanho sofrimento . Entretanto, ele consegue manter-se firme, apesar da força cada vez mais potente . A rocha chora mais, ela foi tocada: vai desvanecer-se em poucos instantes . Ele não suporta a profundidade da dor que causa e larga a rocha, larga a vida . Ela sobreviveu . Ele foi sugado e está num lugar medonhamente feio . Acha que morreu .

As nuvens .

Lá fora, elas se formam inocentes . Tornam-se visivelmente fofas, sempre enigmáticas e distantes . Ninguém repara nelas . Não estão a par de toda esta desmotivação e desilusão . Talvez nem seqer vivam . Estão lá e pronto . Mas a sua beleza e a sua unicidade encantam-me demasiado . Encantam tanto como um carrossel encanta uma criança . A sua pureza e a espontaneidade com q se movimentam faz-me inspirar a energia universal, a energia q todos consumimos sem nos apercebermos da sua existência . A sua leveza conduz a tal sensação de reconforto e de bem q é quase inimaginável, mas, é mais q sentida .

A presente desmotivação faz-me cair para o lado . Deixo-me estar e não me mexo . Só penso, e muito, na tentativa de encontrar a forma mais digna de me levantar . Não ! Não é algo q se pense, está demasiado ligado à emoção para se ser racional . Agora levanto-me e corro sem pensar em nada . Sendo eu e sorrindo para as minhas nuvens .

Egocentrismo .

O que é alguém egocêntrico ? Mmmmm .. É difícil definir . Mesmo porque há imensas concepções diferentes da palavra por aí ..
Acho relevantíssimo destacar a diferença entre se ser "convencido" e egocêntrico . "Convencido" refere-se apenas a um elevado auto-conceito, a achar-se bom . Egocêntrico remete também para a importância que se dá a si mesmo, mesmo não se achando bom . Por exemplo, imaginemos uma pessoa que se odeia mas que passa o tempo todo a falar de si, do tipo: "Eu sou burro !", "Eu faço tudo mal e não valho nada ." .. E continua . "Eu quero ir ali, mas não consigo porque vão todos olhar para mim !" . E assim vai . Parece-me que é, também, egocentrismo . E não é ser-se convencido nem achar-se bom, é a chamada mania da perseguição .
E questiono : É mau ser-se egocêntrico ? No conceito geral é . Contudo, talvez não seja bem assim . Podemos colocar-nos no centro do nosso mundinho e colocar todos coladinhos a nós . E pensar também muito neles . Digo eu . Afinal de contas, nós vivemos 24/24 horas connosco mesmos . É mais que natural que pensemos muito na nossa pessoa .
É a minha opinião . E admito, sou egocêntrica .

Música !

Este post vai ser única e exclusivamente dedicado à música . À MÚSICA !
Independentemente dos gostos musicais de cada um, acho q seria impossível viver Bem sem música .
É fenomenal, faz-nos sentir impelidos por um vento, algo sugador . Arrepia, por vezes . Vicia, ui, como vicia ! Proporciona-nos sensações doutro mundo mesmo . Eu diria q a música foi das melhores coisas q o Homem pensou e concretizou. E concretiza . E bem ! A música manipula (no bom sentido) de tal forma q "obriga" os mais inibidos a dançar como velhinhos internados aos quais foram dadas duas horas de liberdade e energia juvenil !
Pessoalmente, são os grandes Arcade Fire e os surpreendentes White Stripes que me fazem ir para bem longe ! Mesmo ! Com músicas como "Crown of Love", "No Cars Go" e "Wake Up" [ fogo na arcada ] e "My Doorbell", "Blue Orchid" e "Seven Nation Army" [ das risquinhas vermelhas e brancas ] .
Bem, sejam quais forem as preferências, aconselho o máximo gozo da bela da audição e a sua valorização ! Qd formos velhinhos e tivermos de ser chamados vinte vezes para ir almoçar e confundirmos "dentadura" com "loucura" (sonoramente) , vamos sentir falta .. Portanto, vamos ouvir, ouvir .
VIVA A MÚSICA !

Um humano que nos continua a transcender !

Ultimamente .. As discussões sobre fé têm me perseguido muito veemente . Jesus pra cá, provas pra lá .. Isto tem mexido comigo . Bastante .
Quando falamos de Jesus, o que nos vem à memória ? Todos aqueles ensinamentos, a sua simplicidade, a mensagem que nos transmitiu . Ou, talvez, aquele sofrimento na cruz, a sua ressurreição, Maria de Madalena .. Bem, seja como for, acho que o que causou a grande metamorfose no povo de então foi mesmo a sua mestria, os seus "milagres", as coisas que realmente os impressionaram e que, até hoje, impressionam. Tal foi a mudança, que o próprio tempo começou a ser contado a partir daí .
Posto isto, acho que o lugar onde Jesus está sepultado, se tinha ou não irmãos, se foi ou não foi casado, não abala a fé de quem nele acredita . Digo eu . Sendo assim, não percebo o que a Igreja quer tanto esconder, o que a Igreja insiste tornar tabu ..
Compreendo perfeitamente a "curiosidade" dos arqueólogos, a intensa busca das pessoas por explicações científicas, a insatisfação, e a vontade do mundo em saber o que sim e o que não corresponde à realidade .
No entanto, eu acredito na ideia, nos princípios, nos valores que ele nos tentou transmitir com tais parábolas, com grandiosas metáforas, com todas aquelas figuras ( talvez sejam elas que causem tanta controvérsia e tantas perguntas, mas há que saber interpretar) . Por isso mesmo, independentemente da sua existência, a inquietação originada por suas palavras permanece, o fascínio pela sua inteligência e por seus ideais continua a causar polémica . Então, para mim, ele até pode ter sido inventado, pode ser fruto de criativa e sábia mente . Porque, mesmo assim, a sua ideologia é uma bela coisa ! E é uma ideia, não um mortal (as ossadas que se vão lixar) .
Critiquem . Quero saber o que pensam e em que estou errada . = )

Um poema de Manuel Alegre [ belo ! ]

Que o poema tenha rodas motores alavancas
que seja máquina espectáculo cinema.
Que diga à estátua: sai do caminho que atravancas
Que seja um autocarro sob a forma de poema.

Que o poema cante no cimo das chaminés
que se levante e faça o pino em cada praça
que diga quem eu sou e quem tu és
que não seja só mais um que passa.

Que o poema esprema a gema do seu tema
e seja apenas um teorema com dois braços.
Que o poema invente um novo estratagema
para escapar a quem lhe segue os passos.

Que o poema corra salte pule
que seja pulga e faça cócegas ao burguês
que o poema se vista subversivo de ganga azul
e vá explicar numa parede alguns porquês.

Que o poema se meta nos anúncios das cidades
que seja seta sinalização radar
que o poema cante em todas as idades
no presente e no futuro o verbo amar.

Que o poema seja microfone e fale
uma noite destas de repente às três e tal
para que a lua estoire e o sino estale
e a gente acorde finalmente em Portugal.

Que o poema seja encontro onde era despedida.
Que participe. Comunique. E destrua
para sempre a distância entre a arte e a vida.
Que salte do papel para a página da rua.

Que seja experimentado muito mais que experimental
que tenha ideias sim mas também pernas.
E até se partir uma não faz mal:
antes de mulelas que de asas eternas.

Que o poema assalte esta desordem ordenada
que chegue ao banco e grite: abaixo a pança!
Que faça ginástica militar aplicada
e não vá como todos vão para França.

Que o poema fique. E que ficando se aplique
a não criar barriga a não usar chinelos.
Que o poema seja um novo Infante Henrique
voltado para dentro. E sem castelos.

Que o poema vista de domingo cada dia
e atire foguetes para dentro do quotidiano.
Que o poema vista a prosa de poesia
ao menos uma vez em cada ano.

Que o poema faça um poeta de cada
funcionário já farto de funcionar.
Ah que de novo acorde no lusíada
a saudade do novo o desejo de achar.


Que o poema diga o que é preciso
que cegue disfarçado ao pé de ti
e aponte a terra que tu pisas e eu piso.
E que o poema diga: o longe é aqui.

De Manuel Alegre.
[ Diz tudo !! ]

Pólos !

Os humanos . Os humanos são inteligentes . Certamente . Incontestavelmente . No entanto, os humanos sentem, sentem . Talvez esse seja o maior defeito dos humanos . Se não houvessem sentimentos, não existiriam confrontos e, consequentemente, deixaria de haver guerras e mortes despropositadas . Se os humanos não sentissem o mal .. também não sentiriam o bem ! Ai ! Não me parece bem . Deixar de sentir ? Sentir é uma virtude ! Ai ! Que estranho ! Contradições . A verdade é que é bom, diria mesmo, essencial, que haja o mal . O mal mesmo mal . Porque tudo o q existe de negativo, existe também, na mesma proporção, de positivo .
Sendo assim, há electrões e protões, há o possível e o impossível, a recusa e a resignação, o verde e o cor-de-rosa, os caracóis e os lisos, o complexo e o básico . É giro .
Bem .. então os humanos são capacitados . Têm o bom e o mau . Fazem deles o que querem .
[Tenho noção de que há algumas contraposições neste blog.]

Homenagem à minha gata

Uma bela jovem. Cativa só de miar .. Porque parece um sapo quando o faz . Tem uma capacidade absolutamente fenomenal de atrapalhar o andamento de alguém . Gosta de ser atropelada pelos grandes . Tem uma postura bastante imponente . Mas, é, simultanemente, meiga e carente . É dona duma beleza enormemente bonita . Tem uns olhos .. Ui ! Tem um namorado . É cómica . Demasiado assustadora, por vezes . Consegue ser o mais cruel !! É apreciadora de melão, mas não suporta leite . É diferente de todas as outras .. Uma diferença grande ! É demasiado chata .. É-o mesmo muito !! E pronto . É a minha gata .

Uma história.

Encanto .. Fascínio .. Ilusão .. É tudo ! Tudo de bom .. É tão agradável sonhar .. é tão confortável viver numa ilusão .. Mas algo acontece !! Um terrível atentado aos seus sentidos ! Uma horripilante crueldade a mata ! Passa a ser observadora .. Passa a não conseguir parar de chorar .. Tudo a choca ! Tudo é bárbaro e macabro ! Apesar de, supostamente, nada a afectar, ela sente demasiado. Sofre tanto com o que existe que chega a deixar de sentir ! Passa a ser indiferente ! A partir daí deixa tudo .. Apenas se sujeita ao que acontece, deixa de agir, deixa de ser e apenas está !!
Até que um dia, acorda .. Não percebe o que fez, estranha o tempo ter passado .. Sente q precisa d mudar ! Mas algo a impede .. É como se estivesse presa a uma teia .. Uma teia de desilusões e insensibilidades .. Uma teia, que na verdade, é a sociedade .. Tão libertina .. Tão sem preconceitos .. MAS Q A ENCOLHE !! Q a cerca e q lhe prende os movimentos !! Ela, triste e só, adapta-se .. Para ? Conseguir respirar ! E aí, também ela faz parte da teia .. Também ela se esqeceu .. Passou a viver uma ilusão .. Feliz .. Melhor assim. Aqueles sem ilusões sofrem. Aqeles chocados sentem. Aqeles são infelizes.

1 divagação zeca ..

Não seria melhor não sentir ? Por vezes, pergunto-me seriamente se não seria mesmo melhor !! Apenas observar .. apenas rir superficialmente .. divertir-se .. apenas viver os momentos .. Não seria mais prazeroso e menos doloroso ? Não duvido minimamente .. !Seria claramente melhor que sentir, que lamentar sentir, que saber que não se é nada !! Sim .. Porque nós não somos nada ! Nós não temos sequer o direito de pensar que somos !! Apenas existimos .. com o suposto intuito de construir .. e não de destruir como fazemos !!

Grande convencido que é o homem !



Repugnando a espécie .. =S

Aborto !

Na verdade, não consigo conceber a razão pela que tal referendo foi proposto ! Mulheres, pressupostamente sensíveis, mostram-se plenamente a favor da legalização do aborto ! Será isto mesmo real ? Mulheres, inteligentes que são, defendem a morte de vidas indefesas, a morte provocada, a morte decidida e planeada ! Talvez por que pensem que aquele pequeno ser não sofre, não sente ! Mas pensar, achar, isso não chega ! Porque, apesar de todas as pesquisas efectuadas, de todos os estudos, existe uma parte do ser humano, ainda, inatingível, incompreensível ! Sendo assim, vamos colocar hipóteses, e tendo noção do erro, tendo noção que o ser pode sofrer a rejeição, vamos matar ? É isto que me choca ! É esta falta de Humanidade, falta de respeito e egoísmo extremo ! Sim, porque o facto de haver TANTAS pessoas que defendem o aborto, apenas revela o crescente egoísmo da nossa sociedade ! "Eu sou a favor! Fogo...Um dia destes acontece-me o mesmo...!" ou "Finalmente este governo faz alguma coisa ! Agora, já estou mais segura!" ou "Aborto? Claro! Não quero ter de aturar filhos de gajas ignorantes (mas com as quais se divertiu) !" ou "Bem...Agora já não vou ter de vigiar tanto a minha filha!" .. Pois é ! EGOÍSMO !!
Epá, eu sinceramente, até não estava a achar a actuação do governo tão "má" quanto isso .. Mas agora ! Quem vê estas medidas, esta falta de abertura perante propostas decentes, até pensa que estamos num país onde há demasiados jovens ! Com este envelhecimento da população, o SIM só irá agravar (ainda mais) as coisas !

Talvez nós não valorizemos a nossa própria vida como realmente deveríamos .. Mas, independentemente disso, a vida humana, em si mesma, deve ser valorizada ! Podemos considerar a nossa vida inútil, mas a dos outros não ! Não sabemos se as pequenas vidas podem vir a ser GRANDES !!

Não sabemos nada, nada, nada !



CHOCADA ! Sinto que não pertenço a este mundo ! Barbaridades ! Violência !!