não pelo que é
Espalharam-na por aí. Encheram as paredes e o ar com ela. Encheram-nos os sentidos com ela. Atiraram-na para a sarjeta disfarçada de outdoor. Ela sempre tão linda, tão apreciável. Ela é profunda. Oh, se paramos e a deixamos entrar em nós é fantástico. Só que encheram tanto tudo que criámos barreiras, criámos indiferença perante ela.
Como há muita por aí, deixou-se de saber o que é ela, o que ela é. Tornou-se uma companhia, tal qual como a televisão ligada em canais reles. Está lá e isso conforta, não pelo que é, pela sua presença. Sentimos quando liga e quando se desliga, mas não se aprecia nada do que se passa. E é tão triste, esta banalização. É como se tivéssemos sempre de mudar de vida porque por mais que gostemos dela, acostumamo-nos a ela e esquecemo-nos do que é, dos tempos em que sonhávamos com ela.
Encheram as ruas de cartazes todos iguais. O primeiro foi cuidadosamente pensado ao pormenor. Mas todos juntos dão vómitos. A música pode ter sido inspirada e sentida, só que a tocar o dia todo, quase se apaga a si própria. O edifício pode ter sido feito com minúcia e ter ficado bonito. No entanto, se se trabalha lá dentro todos os dias, ai que nem se olha...
A banalização mata a ela, a arte.
1 comentário:
Quero que fales comigo sobre este pensamento.
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